sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011: Um Ano de Crises


Não sei se uma da manhã é um bom horário para tentar analisar o que foi meu ano de 2011, mas me conhecendo sei que se não fizer agora não farei nunca, então vamos do único jeito que funciono: escrevendo sem parar e sem reler depois. Esse ano foi o ano mais crítico da minha vida até agora. E quando eu falo crítico, eu me refiro às inúmeras crises que eu tive que lidar e que eu causei na vida das pessoas durante esse ano. Tem um departamente de Gestão de Crises no meu cérebro de dar inveja a qualquer governo do mundo, se não fossem eles meu cérebro já teria virado gelatina há muito tempo. Esse ano enfrentei meus medos, saí da zona de conforto e me atirei na jaula dos leões e, cara, that shit scared the hell out of me. O mundo lá fora não é amigo, tá todo mundo aí querendo te fuder (e não é do jeito bom onde você transa no final). Todo mundo esperando uma brechinha na segurança para invadir e quebrar tudo. Pra te roubar? Não só pela graça de ver você arrumando tudo depois. Tive minha primeira crise de relações públicas (que acho que até lidei muito bem). Tive algumas crises de consciência, fiz coisas que não me orgulho mas que de forma alguma me arrependo de ter feito. De algumas coisas aprendi muito, de outras eu simplesmente apaguei da memória. Quebrei a cara de muita gente também, não no sentido físico da expressão, mas muita gente que esperava pouco de mim se surpreendeu. Infelizmente teve gente que esperava muito de mim que se decepcionou. Em minha defesa eu digo que eu sempre fui muito honesto com todo mundo. Mandei mal. Cara, como eu mandei mal. Fui grosso com gente que não merecia e em momentos que não precisava. Também fui grosso com gente que merecia na hora que precisava, mas um acerto não justifica um erro. Para vocês, peço desculpas. Perdi alguns amigos por erros idiotas, isso é ruim pra caralho também. Fiz alguns amigos por erros idiotas também, isso foi massa pra caralho. Fiz grandes amigos. Fiz irmãos. Que hoje significam muito pra mim, que estiveram lá para me ajudar a levantar e para me empurrar quando eu precisei. Que riram comigo e riram de mim. Que estavam lá enquanto eu falava por horas com meu ego megalomaníaco e que me avisam quando eu to exagerando. O exagero. Foi bom se deixar exagerar esse ano. Não necessariamente exagerar, mas a liberdade, o "can be". Abri mão de muita coisa importante para chegar nisso. Sério, coisa MUITO importante. Abri mão da coisa mais importante que já tive em mãos para isso. Para me abrir a potência do ser. Para a dúvida. O momento pediu. Sofri as consequências também. Tentar lidar bem com tudo, com as melhores das intenções, as coisas nem sempre saem como a gente planeja. As vezes dá errado. Isso foi outra coisa que aprendi: às vezes simplesmente dá tudo errado. Por melhor planejado que as coisas sejam, as vezes elas simplesmente não funcionam. E quando está dando tudo certo, ela vai dar errado eventualmente. Conheci gente. Muita gente. Conheci gente maneira pra caralho, e conheci gente escrota também. Mas foco nas pessoas maneiras. Aprendi pra caralho. Fiz pose de mal e de superior. Falei o que eu pensava de verdade pra quem mereceu (ou pra quem o momento pediu). Duas faces da mesma moeda que se você prestar atenção são uma só, é o grande truque de mágica pra quem é um pouco mais ligado. Eu já falei que fui idiota? Agi errado, me obriguei a não me importar, me obriguei a deixar de importar. É meu modo de autoflagelo. Foco no que eu quero, e tentar contornar as pessoas que podem entrar no caminho, mesmo que essa pessoa seja eu. Planos. Hoje, junto com as pessoas que tenho em minha volta, consigo colocar todo em prática. Começar a ver a fagulha depois de tanto tempo conversando sobre a fogueira é revigorante pra caralho. Fiz merda. Fiz muitas merdas. Algumas conscientes, outras sem nem saber que tinha feito. Fiz coisas que não fiz e fiz coisas que eu sabia que eu nunca faria. Enfrentei meus tabus e enfrentei tabus dos outros. Ano que vem vai ser um ano pesado. Não sei direito o significado de "pesado" nessa frase aí em cima, mas acho que essa é a palavra. Não há arrependimentos, mas todas as desculpas são verdadeiras. Aliás, me esforço tudo em só expressar o que eu acredito ser real. Falando nisso, se você chegou até aqui comigo, muito obrigado, de verdade.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sorriu de volta.

Ele viu ela do outro lado da rua, andando em sua direção, foi tudo muito rápido, ele não tinha certeza se algum dia ela já tinha notado ele. Tanto tempo observando ela na escola, era até melhor que ela nunca tivesse notado que provavelmente ela o acharia muito esquisito. Ele mesmo não conseguia explicar a facinação que ela gerava, ele ficava meio bobo, sem palavras, não conseguia prestar atenção em mais nada, nem mesmo nela. A imagem dela na sua mente ofuscava o que estivesse em volta e bloqueava qualquer tipo de reação. Fazia questão de estar sempre na frente para poder ceder seu lugar, ser o primeiro a responder quando ela perguntava as horas. Mas tudo isso era um confronto indireto, ele não tinha que encará-la realmente, mas ali, naquela rua, eles iam se cruzar inevitavelmente. Ele não podia dar a mancada de fingir que não tinha visto, e se ela o odiasse para todo sempre? Mas o que ia fazer se ele não tinha certeza nem se ela sabia seu nome? Ela se aproximava cada vez mais, seu coração disparava e sua testa começava a suar. Será que ela estava percebendo seu nervosismo? Não, é só ele continuar andando como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. As vezes ela nem ia o ver e não tinha noção do que estava acontecendo, mas para ele aquilo podia ser finalmente a prova de que seu esforço não tinha sido em vão. Eles estavam cada vez mais perto, ele tinha que tomar uma decisão urgente. Era agora ou nunca. Ela passando por ele e tudo que ele conseguiu fazer foi movimentar os lábios em um "Oi" sem sair som algum. Ela sorriu de volta em resposta ao seu "Oi" e continuou seu caminho. Ela tinha o visto! Ela o reconheceu e sabia que ele era aquele garoto da escola que sempre estava em seu caminho. Será que ela mora por essa região? Como eu nunca a viu por aqui? Existe tanto a descobrir! E ela já sabe que ele existe. Tudo valeu a pena. Tudo. Em seu iPod continuava tocando Float On do Modest Mouse, ele continuou caminhando para casa.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Maior Dos Medos


O que disse o Rei em seu palácio
Ao ser informado que seu filho, Inácio
Morreu em guerra pelo país
Lutando por tudo que sempre quis

A morte honrada do primogênito
Homenageado com medalha de mérito
Não tornou mais triste os olhos molhados
De um pai que perde seu legado

Ao ouvir as palavras do mensageiro
Que gaguejou sem mais conforto
De joelhos, gritou em desespero:

"Que tipo de destino cruel e torto
Me reserva, ó Deus Todo-Poderoso
Em que um pai vê seu filho morto?"

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lucky.


Você me olhava meio desconfiada, sem saber direito se era realmente aquilo que você queria. Cheguei a me conformar que você não me escolheria visto que tinha tantos mais bonitos ou mais interessantes que eu. Por fim me carregou para fora ainda em tom de dúvida. Demorei um pouco, mas logo você estava rindo das minhas gracinhas. Me levou pra casa já sem nenhuma dúvida. Chegando lá estabeleceu meus limites e as regras da casa. Se eu quisesse ficar era sob aquelas condições. concordei meio tímido no canto do sofá e te observei ir na cozinha e abrir uma garrafa de vinho. "Você não bebe, né?", você disse em tom de deboche me trazendo água. Você brincava com a taça enquanto me encarava, já pensando de novo se estava fazendo a coisa certa. Sua casa parecia de alguém muito solitário. Alguns cinzeiros em cima de catálogos de moda. Me distraí com uma pilha de roupas no chão enquanto você falava sobre quem era você e porque eu estava ali, de todas as vezes que tinha sofrido e de como tinha perdido a fé nos homens. Você era linda, sua voz me acalmava. Na terceira taça, você já bem alterada me levou pra sua cama. Tirou a blusinha e a calça jeans e me deitou entre seus seios. Nunca tinha sentido uma pele tão aveludada. E ali, ouvindo seu coração, eu me aconcheguei e dormi. Foi quando eu tive minha primeira certeza na vida: podia não ser o mais bonito nem o mais interessante, mas com certeza eu era o filhote mais sortudo da petshop.  

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Queda

Ninguém podia afirmar que ele era um perdedor. Ele tinha um emprego legal, uma namorada legal, era quase bom em tudo que fazia com destaque em uma coisa ou outra. Mas ainda assim ele estava ali, na beirada da janela pensando se morreria na queda ou só quando atingisse o chão. Nada do que tinha era forte o suficiente para prendê-lo ali e sua vontade de conhecer coisas novas era grande demais, nunca foi de dar muita satisfação a ninguém. Nunca tinha saído do país, mas sair do país é algo que qualquer um podia fazer. Realista como era sabia que nunca ia ser um astronauta, ainda assim sua vontade de descobrir algo novo o levava a observar a queda por quase uma hora já. Quem iria sentir falta dele? Quem só ia descobrir meses depois? E, mais importante, pra onde ele iria? Não acreditava na dicotomia inferno/paraíso, mas se recusava a pensar que não teria nada além. E se acabasse ali, bem, sua consciência iria cessar e não existiria arrependimento, logo era uma relação de ganho para os dois lados. Ele não acreditava em saudades, sentir falta. O que aconteceu vai sempre existir, ele queria algo novo e, no momento, o mais perto de uma nova experiência que ele tinha era aquela queda. Sentou-se no parapeito da janela e sentiu o vento, suas pernas para o lado de fora. E se caísse acidentalmente? Também se livraria da responsabilidade de tomar aquela decisão. Todos superariam, todos superam eventualmente. Toda dor é passageira e sua dor duraria o quê? 5 segundos no máximo. Pensou em segurar a respiração para se distrair durante a queda ou talvez sua vida passasse diante de seus olhos, o que seria distração o suficiente. Estava decidido, ia pular. Ficou em pé na janela, tirou os óculos e os jogou na cama. Olhou pra baixo mais uma vez e deixou seu corpo cair. Acordou no hospital duas semanas depois, sua mãe ao seu lado chorou como nunca. Ele não tinha certeza do que tinha acontecido, não se lembrava da queda, não se lembrava de chegar ao chão nem de ter alguma experiência de quase morte. A notícia se espalhou, seus amigos vieram lhe visitar, no começo todos ficavam felizes por estar vivo até começarem a questionar porque ele tinha feito aquilo, se estava com depressão, se sua vida não era boa. O que ele mais odiava no mundo era ter que se explicar e agora estava ali em uma situação onde tudo o que procuravam nele era um motivo. Ele pulou porque queria ver como era, sentir algo que ninguém nunca sentiu e o que conseguiu foi um blecaute mental, vários ossos quebrados e todos seus conhecidos o cobrando uma resposta que ele desapontadamente não tinha. Quer dizer, a não ser que aquilo ali seja o Inferno, aí sim, tudo faz sentido novamente.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Roteiro para institucional genérico.

Externa, dia. Imagem em preto e branco, trilha sonora instrumental e dramática no fundo. Close em garoto com síndrome de Down em um balanço rindo (entre 5 e 8 anos, bem vestido). Narração em OFF: "Este é Carlinhos, ele tem síndrome de Down". Câmera vai se afastando até mostrar que ao lado de Carlinhos tem um outro garoto também rindo no balanço ao lado (negro, mal vestido, entre 5 e 8 anos também). "Eduardo mora nas ruas". Câmera fixa nos dois garotos brincando um ao lado do outro. "Carlinhos nasceu livre de preconceitos. Para ele, Eduardo não tem cor, credo ou sexualidade. Eduardo, depois de sofrer vários abusos, ainda tem medo de adultos". Um homem e uma mulher, classe média alta, entram sorrindo e buscam Carlinhos, que se despede feliz do garoto ao seu lado. A câmera ainda fixa mostra o casal e Carlinhos indo embora e o outro garoto ficando sozinho e triste parado no balanço sem ter com quem brincar. "Carlinhos tem síndrome de down, Eduardo não teve tanta sorte". Entra assinatura e logo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um jogo velho contra um velho amigo.


Se você soubesse como está o tabuleiro
Não teria colocado outra peça
Depois de tudo que falamos sobre elas
Você vem e me apronta uma dessas!

Três rainhas não cabem no xadrez
Ainda mais se isso custar um rei
Saudades de quando éramos apenas peões.
Preocupados demais com nossas posições

Fazíamos sonetos sobre andar em "L"
E sobre um dia virarmos torres
Ou fortes bispos gritando "Xeque"

Para chegar aqui neste universo de duas cores
Onde poemas são feitos sem perceber
Com o simples intuito de aparecer

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Esse homem.

Um dia ele simplesmente não acordou. Mas diferente de outras pessoas que morrem ou ficam em coma, o que ele estava experimentando era a sensação constante de estar sonhando. Quando ele primeiro teve consciência, ele se aproveitou ao máximo do poder que tinha. Podia fazer o que quiser, sem medo das consequências. Os sonhos seguiam uma lógica própria, mas ele os manipulava como queria. Com o tempo, ele foi cansando da própria cabeça. Depois de muito vagar sem rumo, um dia se viu em um lugar diferente. Tinha algo acontecendo mas ele não era mais o foco dos acontecimentos, como estava acostumado e também não tinha mais poderes sobre as coisas. Após observar a situação, ele rapidamente conseguiu apontar o dono do sonho. Era uma menina, provavelmente uns 15 anos, que sonhava com um ator famoso que ele já não lembrava mais o nome. Tentou se aproximar para ver o que conversavam, mas de repente o cenário mudou. Uma mesa de bilhar recebia um grupo de amigos. Todos bebiam e conversavam alegremente, o dono do sonho provavelmente era um jovem de uns 25 anos que falava mais alto e jogava melhor do que os outros. Ele pediu uma cerveja e encostou no balcão, observando a situação por algumas horas. Muda o cenário: um quarto onde uma família fofoca sobre outras pessoas. Não sabendo os limites de estar em um sonho externo a sua própria cabeça, tentou sair do quarto, mas em vão. Apenas uma imensidão branca existia fora daquele cômodo. Se encostou na parede e esperou o sonho acabar. Um menino sonha que está montado em um dragão resgatando uma princesa. Uma senhora lava roupas enquanto sua mãe, mais nova que ela, fica repetindo que ela é uma imprestável. Um homem casado sonha que está transando com sua secretária. Um garotinho tem uma longa caminhada com Jesus enquanto conversam sobre as verdades do mundo. Outro homem sonha que ganhou na loteria. Isso continua por anos. Enquanto isso, no mundo real, espalha-se pela internet e pelas ruas do mundo a imagem de um homem, de cara redonda, sombrancelhas grossas e pouco cabelo que muitos afirmam ter visto em seus sonhos. Algumas vezes ele teve papel ativo em seus sonhos, em outras vezes ele estava simplesmente lá. Ninguém sabe explicar quem é ele ou quais são suas intenções, mas teorias começam a surgir em todo lugar. Mal sabem eles que esse homem, sem mais ter o que sonhar, daria tudo pra poder acordar novamente.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vara de pescar

Assim como um imbecil
Com uma vara de pescar
Arremessando para o rio
Esperando alguém fisgar

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Contos da Revolução Y

Amigos, estou escrevendo um livro (ou o maior conto que eu já escrevi, tudo vai depender do meu ânimo e empolgação). Só para vocês não se sentirem abandonados mesmo. É baseado numa idéia original do Che Sobreira, sobre a Geração Y e os anos de repressão amorosa que sofreram. É muito difícil pra mim escrever e não postar imediatamente, então espero muito que vocês gostem quando eu finalmente chegar a um produto final (ou não aguentar mais e soltar o que eu tiver).

Just letting you know.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Rabiscos.

Sentada no canto da sala observando as pessoas ignorarem o professor. Mas quem era ela pra julgar já que ela estava fazendo o mesmo ao prestar atenção nas pessoas e não na aula? Ela começava a rabisca seu cadernos, pequenas histórias que nunca viriam a público sobre um casal de personagens fofinhos e de olhos grandes que se encontrava e desencontrava no meio de fórmulas químicas ou definições de gramática. A menina era ela mesma, o menino era um aglomerado de personalidade que um dia a trataram mal e, provavelmente por isso, ela amou loucamente. Às vezes ele era mais passivo, fazendo todas as vontades dela, outras vezes ela que sofria na mão do outro personagem.. Tudo dependia do clima da sala, do seu humor ou mesmo da matéria que estava sendo lecionada. Hoje os dois se amavam, mas um muro alto os separava. Ele tenta inutilmente fazer um buraco no muro, ela cavava para tentar passar por baixo, ambos querendo encontrar-se um ao outro.Um terceiro personagem chega e observa os dois, ele chega perto dela, segura sua mão e a guia ao outro lado do mundo, simplesmente dando a volta, juntando assim os dois. Às vezes tudo que se precisa é de um terceiro pra apontar o que está errado. Bate o sinal indicando o fim da aula, ela guarda seus materiais de qualquer jeito e sai da sala sem falar com ninguém.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Todas vocês por cada um de vocês (por mim).

E ela ficava horas no seu computador escrevendo poemas sensíveis, reflexões profundas, coisas importantes sobre ela e sobre quem estava a sua volta. Atualizava seu blog diariamente com citações de filmes europeus, clipes de bandas inglesas ou vestuários que estavam usando na Itália. Era aquela a forma que ela escolheu pra se descrever ao mundo, era daquele jeito que ela queria ser vista. Pessoalmente ela era calada, se vestia esquisito que combinava com o cabelo esquisito e fumava um cigarro de cheiro esquisito, muito mais por escolha estilística do que por gostar realmente daquilo tudo. Tinha grandes fãs por aí e carregava aquele ar intocável, onde todos se sentiam amedrontados para oferecer uma cerveja ou puxar assunto casualmente. Ela postava fotos de gente esquisita como ela, que provavelmente vive em algum país europeu. Velhas divas do cinema em seu auge, pin-ups, James Dean, Marlon Brando e Paul Newman. Frases descontextualizadas e ilustradas com um ar de blasé para passar o quanto cada um sofre por amor mas ela é melhor que tudo isso. Sofre calada na frase dos outros que são grandes frasistas. E pra suas próprias frases ela reserva o mistério e a ambiguidade de quem quer se abrir só pra quem a entende, no fim não se abrindo pra ninguém. Suas amigas seguem o mesmo estilo, clube fechado de piadas internas sempre andando com o cara errado que, por acaso, nunca é vocês. Uma cerveja alemã impronunciável entre um galão de vinho vagabundo e outro, as vezes até algo mais pesado. Tudo isso entre poemas infantis, reflexões sem nexo e coisas que ninguém se importa sobre ela e sobre quem estava a sua volta escritos por horas em seu computador. Você a conhece, provavelmente já até gostou dela, essa imbecil que habita sua timeline.

domingo, 26 de junho de 2011

Espelhos

O primeiro passo foi tirar todos os espelhos da casa. Se ela não podia ver sua própria imagem, ela podia se imaginar como quiser. E com um pouco de esforço, ela já conseguia se ver como queria quando era obrigado a passar por alguma superfície refletora. Cabelo, maquiagem, vestido, ela já conseguia se arrumar sem a necessidade de se ver e a medida que ela não se olhava, reforçava a imagem mental, a versão idealizada de si mesma. E com a certeza de que ela era realmente daquela forma, não foi tão difícil convencer os outros. As pessoas já acreditavam e reforçavam tudo que ela acreditava ser. Poucos eram o que a conheciam antes da transformação e menos ainda eram os que a conheceram depois e conseguiam enxergar isso. Era tudo muito cômodo, poder manipular sua própria imagem e tinha começado com um simples ato de retirar os espelhos da própria casa. Se ela acredita que pode ser o que quiser, quem vai dizer que aquilo não é ela mesma? A verdade é individual, apesar de todos quererem convencer uns aos outros da sua própria verdade. A verdade dela era aquela e enquanto ela quisesse olhar para tudo que não seja a si mesma, ela pode acreditar no que quiser.

Versões.

Há alguns meses me falaram que eu tinha que mudar e eu não levei a sério. Falavam coisas sobre comportamento diferentes em diferentes situações e eu argumentando que eu era um só a todo momento, apesar de todos acreditarem que cada "aquele" que eu era, era um personagem montado "praquela" situação. Consegui mostrar que aquele era eu mesmo e estava em todas as situações. Sou a mesma pessoa na internet, na faculdade, no bar e em casa. Faço as mesmas brincadeiras e piadas (constrangedoras ou não) em ambientes familiares ou no meio de amigos. Essa constância já me colocou em situações ruins mas acabei optando por mantê-la, pois sua falta de mutabilidade também faz parte do personagem. Mas refletindo sobre tudo isso, acabei encontrando sim minha outra personalidade. Uma personalidade que não anula ou contradiz a primeira, mas é diferente em quase todos os aspectos. Descobri em mim alguém que não está na defensiva sempre, alguém aberto a falar sobre si e sobre coisas importantes para mim, alguém que só aparec(ia)e em raros momentos de confiança e intimidade para pouquíssimas pessoas. Alguém que meus amigos já conheciam mas que se esconde pro grande público. As pessoas não sabem lidar com informações e inconscientemente escondi informações sobre mim. Hoje vejo (ou pelo menos justifico pra mim) que tudo isso foi e ainda é válido. Não posso abrir a guarda pra qualquer um, não posso prever como essa pessoa vai lidar com informações que são tão importantes para mim. E no final de tudo, eu mudei. Em um processo natural que aconteceu nos últimos meses, comecei a encarar as pessoas e os acontecimentos de uma forma diferente, é tudo mais pesado mas ao mesmo tempo tudo parece ter uma importância maior. Um pouco como a diferença entre tomar um soco de um desconhecido comparado com um tapa de alguém que importa para você. O segundo machuca muito mais a longo prazo. Consigo apontar umas quatro versões de mim nos últimos meses, e não me espantaria se daqui a alguns meses eu tenha virado uma sexta ou sétima versão de mim mesmo. E cada vez mais sou obrigado a deixar pra trás coisas que eu acreditava, que eu era e que fazia parte de mim, para adicionar novas coisas. Ciclo de pessoas, ciclo de lugares, ciclo de crenças. Acho que o importante no final é nunca deixar de ser eu mesmo, mesmo que "eu mesmo" mude sempre.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Maturidade

Cobrar maturidade das pessoas sempre foi algo muito imaturo. Ninguém vai mudar por sua causa. Todos temos nossos momentos  de extrema infantilidade e momentos onde nossa experiência em certo assunto realmente é maior. Hoje eu vejo a mim mesmo com 18 anos e vejo o quão imbecil eu era. Claro que comparado com outras pessoas naquela idade (no meu ponto de vista) eu era bem sensato, mas pensando em mim agora eu vejo o quanto os últimos anos me fizeram bem. Então quando eu vejo alguém agindo infantilmente, tudo que eu espero é que no futuro, essa pessoa pense nela no passado e sinta vergonha de ter sido tão imbecil. Mas você pode argumentar que eu falei muito sobre não ser maduro pra no final pagar de maduro, nada mais justo, mas não estou aqui para apontar pra ninguém, o objetivo é só refletir sobre mesmo. Acho que deveria existir uma cota de maturidade para o dia, ou até para o mês, assim tiraria a culpa de ser imaturo. Aí nós julgaríamos não pelo "nível" de maturidade de alguém, mas sim pelos momentos onde cada um escolho ser maduro ou não.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Culto ao Exagero

O estilo de vida Exagerado é algo que não era muito conhecido até que Charlie Sheen surtou algumas semanas atrás. Todos gostavam do personagem Charlie Harper pela sua canalhice e honestidade em cada ato, mas aquilo era show business, tudo roteirizado e ensaiado e editado para que seja verdade. Apesar de óbvio para quem conhece a biografia do Charlie (o Sheen), não era muito claro pra maioria que o Charlie (o Harper) era nada além do que um exagero do ator. Assim como Tony Stark se encaixou perfeitamente em Robert Downey Jr, Harper foi criado para exaltar ao máximo as características de Sheen e fazer humor a partir disso. Então o inevitável aconteceu: Sheen viu que existia alguém que era ele mesmo só que muito mais intensamente, e Sheen tinha as condições financeiras para se tornar aquela pessoa. Três mulheres e 7 pedras de crack por dia (segundo a Folha, né), Sheen chutou o pau do baraka, ofendeu os irmãos Warner e o criador do Big Bang Theory, foi pras redes sociais e viu que lá ele teria muito mais alcance.
Conheci pessoas assim na minha vida. Não com tanto dinheiro, com certeza, mas pessoas que viviam exageradamente. Comendo como se não houvesse amanhã, se vestindo de macaco e kilt e tocando trompete de madrugada na estrada.Pessoas que fazem coisas apenas porque podem. Não há motivação ideológica nem justificativas racionais. Não é necessariamente ligado a drogas e sexo, mas porque não ser também? Correr pelado. Não é auto-destruição, não precisa ser pelo menos. É não se preocupar com as consequências de algo que não tem consequências realmente. E lidar com as conseguências que houver. "O que é divertido é meu grande motivo", já dizia aquela outra música da banda que deu nome a esse blog. Enquanto você estiver se divertindo, tudo é válido. Tudo. E não há nada mais divertido do que ser o exagero de si mesmo.
Há um ano atrás todos queriam ser como Charlie Harper, hoje todos querem ser como Charlie Sheen. A versão exagerada da própria versão exagerada.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sobre Tarantino e referências.

Surgiu hoje em minha timeline através do mestre Pedro Henrique Mota, um texto que falava sobre como o Tarantino não era tão maneiro assim porque tudo que ele fazia era copiar mil outros filmes de outras épocas, juntar tudo e isso dava o filme dele. Pra continuar a partir daqui você deve:

a) Ser fã do Tarantino ou de cinema em geral
b) Ler esse texto aqui: http://cinemacomrapadura.com.br/colunas/acme/190150/acme-o-que-quentin-tarantino-faz-e-homenagem-ou-plagio/

Pronto. Você leu o link acima, está chocado como todos nós. Como alguém pode falar assim do lindo do Samuel Rosa americano. Mas se você continua aqui ainda, você quer saber o que eu acho disso tudo, né? Então, o que eu acho está nesse texto aqui ó:

- http://omenestrelmudo.blogspot.com/2011/02/referencias.html

Esse texto acima, como vocês devem ter percebido, não foi escrito por mim, e sim pelo Arthur Moraes. Mas o que eu acho é isso aí mesmo. Referência é tudo e gênio é aquele que melhor saber usar as melhores referências.

Pra finalizar, você (provavelmente ninguém realmente) que chegou até aqui depois de ler todos esses textos, gostaria de ver os comentários e a repercussão disso tudo. Como ninguém vai comentar nada aqui, colo mais um link, com um comentário do último texto, feito pelo também amigo e personagem Che Sobreira:

- http://memoriasdocaos.blogspot.com/2011/02/comentario-respeito-de-referencias.html

E se uma, apenas uma pessoa, comentar aqui me convencendo de que leu os textos e dando uma opinião interessante, bem, todos os plágios do Tarantino terão valido a pena.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A última canção

Ele olhou para frente e estava lotado. Lotado mais ou menos, já que o lugar não era tão grande. Umas 60 pessoas já lotava lá. Devia ter umas 100. Todos suados, se empurrando para tentar chegar na frente. Tinha gente até sem camisa já. Olhou pro chão, o set list já rasgado e pisado, mas ainda preso, debaixo da base do microfone, era agora. André, meio alcoolizado, empunhando a Gibson Explorer herdada do pai, chega no seu ouvido e grita "Bota pra fuder, velho". Marcos, na bateria, com o maior sorriso que já tinha dado na vida, concorda com a cabeça e começa a contar. O público vai a loucura só de reconhecer a próxima música. Ele acompanhava a contagem da bateria batendo no microfone. Aquelas pastilhas pra garganta realmente vieram a calhar, sua voz não estava boa desde o ensaio de quinta-feira. Quando o Paulo começou aquele riff no baixo, ele pode jurar que viu um sujeito começar a chorar. Todos entraram, só faltava ele. No primeiro verso, meio gritado, meio cuspido, ele já não ouvia sua própria voz. O retorno estava funcionando perfeitamente, era o público que o impediu. E assim continuou, ele meio que dublando a própria canção enquanto o público repetia aqueles versos bobos de adolescente revoltado com o fato de não ter com o que se revoltar. Bem na frente do palco, quatro caras berrando a letra enquanto se espremiam na multidão. O André sabia bem mexer com eles, fingia que ia jogar a guitarra, brincava com o público e não errava uma nota, aquele bêbado filho da puta. Marcos tinha o público e a banda nas mãos, controlando a velocidade da noite enquanto rodava a baqueta entre os dedos. O público tinha decorado todos os versos. É agora, agora o momento que todos esperávamos. Aquela pausa milidecimal de segundo entre o último verso da estrofe e o começo do refrão. Nesse instante, a banda e o público estão parados no ar. Espero que alguém consiga tirar uma foto. O refrão começa e o público não está mais olhando para o palco. Os caras lá embaixo se empurram e se batem numa bagunça ordenada, daquelas que quem está de fora nunca vai entender. Ele, arrepiado, grita o refrão como agradecimento àqueles caras que estão com ele e àqueles que se deram ao trabalho de estar ali. Paulo o completa com os backing-vocals, ele também nunca esteve tão feliz. Os versos voltam mas a roda não para. Os caras começam a usar o retorno como base para pular em cima um dos outros. Dois caras tomam o microfone do Paulo e cantam, totalmente fora do tom, mas naquela empolgação. Um deles tropeça no cabo do André, o público nem percebe que a segunda estrofe foi quase inteira sem a guitarra. O refrão de novo e ele simplesmente entrega o microfone para um grupo que estava na beira do palco, toma distância e salta. Enquanto era segurado no ar pelo público, ele tentava ouvir cada voz que tava cantando sua letra, cada jovem que pensa como ele. O público o põe no chão a tempo de voltar pro palco e cantar o último refrão. Esses caras não cansam de se empurrar e fazer moshs e gritar os versos como se a gente fosse os Beatles, caralho. E o refrão termina com o resto da banda, todos sincronizados e guiados pelo mestre Marcos. Só se ouve aplausos e gritos. Ele fica imóvel observando a reação do público, boquiaberto como se estivesse na frente da Mona Lisa. Ele só volta a si quando André o abraça meio sem jeito, com a guitarra entre eles, e gritando no seu ouvido "Obrigado". Aquilo no seu rosto era lágrima ou era suor? Provavelmente os dois.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Primetime

Ali mesmo, enquanto assistia as propagandas em meio a mais um episódio da série (que não era sua favorita mas era a que estava passando no momento), ele teve a revelação: e se sua vida for uma série de TV? Até que poderia fazer sentido, a cada ano novas pessoas entravam na sua vida, outras saíam. As vezes mudava o ambiente também, mas na maioria sempre mantinham os mesmo lugares. Sem contar que alguns amigos (e mesmo seus pais) sempre interpretaram muito mal o papel que cada um tinha sido proposto. Seria uma comédia? Bem, acho que não, visto que ele não era tão engraçado assim. Então era um drama. Apesar que... bem, não aconteciam coisas tão emocionantes na vida dele para dizer que era um drama de sucesso. Policial com certeza não era. Talvez era uma série menor, de menor audiência. Por isso não precisava ter acontecimentos tão marcantes ou personagens tão expressivos. "O Bernardo lá da faculdade é bem expressivo, né? O Bernardo sim mereceria um seriado só dele. Quem sabe um spin-off quando se cansarem de mim". Foi quando ele sentiu o soco metafórico atingindo-o sem dó e em slow motion. A metáfora era tão forte que quase o derrubou do sofá e ele já conseguia sentir o gosto de sangue na boca. Ele simplesmente não era o protagonista da série de sua vida (se é que ele ainda podia chamar dessa maneira). Existiam outras pessoas mais interessantes no mundo, por que ele seria o protagonista? Ele não era engraçado, não tinha personalidade, não lutava pelo que queria. Ele era só um coadjuvante, ou quem sabe apenas um figurante. Um figurante, com certeza era só um figurante. "E agora, voltamos com...", as propagandas acabaram, finalmente.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Todas as canções de amor devem ser fáceis de tocar.

As grandes canções de amor obrigatoriamente devem ser fáceis de tocar, e fáceis de se memorizar também. Porque todos teremos de nos declarar ou desabafar sobre amor em algum momento da vida e é injusto termos que fazer cinco anos de aula de violão e canto lírico para simplesmente tocar uma canção de amor. Todos devem ter seu momento de fama em uma roda de violão, de preferência com as meninas suspirando e os meninos cantando junto baixinho. Ou mesmo sozinho no quarto chorando enquanto repete as palavras de seus ídolos. O caráter universal desse sentimento (ou até mais da ausência dele) faz com que cada palavra seja verdadeira na maioria dos casos, independente de quem as está dizendo. Assim se você especifica sua canção de amor, colocando um nome, por exemplo, você dificulta que sua geração (e as próximas gerações) se identifique com o que você diz. Faça canções de amor, mas deixe seu virtuosismo técnico e lírico para as outras canções.

Por um mundo onde qualquer um possa se declarar ou chorar empunhando um violão.


Em breve, esse desabafo também estará em forma de canção.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

To Be Continued Tales #2

Luiza tomava sol em sua mansão quando um homem de terno entra e se aproxima, tentando não olhar para o corpo de sua patroa.
- Preciso que você faça algo pra mim, Rico.
- É para isso que a senhora me paga, madame.
- Dessa vez é algo diferente.
- Eu já provei pra senhora naquele incidente em Cancun que farei o que quiser, madame.
- Preciso que você busque alguém para mim no aeroporto.
- Não entendo quão estranho isso pod...
- Não terminei. Você vai buscar esse senhor aqui.
Ela pega uma foto em sua bolsa e entrega para Rico. Rico parece chocado.
- M-mas madame, isso é impossível. Eu mesmo o matei há três anos atrás... a mando da senhora.
- Apenas vá, Rico.
Rico concorda e caminha para a saída.
- E Rico, não garanto que ele vai te receber bem.

TO BE CONTINUED...


Você pode ler a To Be Continued Tales #1 por Arthur Moraes clicando aqui.