sábado, 24 de março de 2018

Órbita.

Habitamos o microcosmo do meu quarto
E na quarta volta, nosso universo colidia
Em supernova que não ecoa no espaço
O grito do astro que ninguém ouvia
Estrelas marcavam e guiavam o caminho
E o satélite que enfeitava nosso teto
Era o ponto brilhante de não se estar sozinho
Perder-se na galáxia de afeto
Mas a rota de colisão em nosso frente
Pedia que medidas fossem feitas
Enquanto a gente flutuava calmamente
Você já orbitava outro planeta.

sexta-feira, 16 de março de 2018

O que morreu de mim.

Um tiro distante me atingiu em cheio
e, como se tivesse no meio,
senti meu sangue descer.
E o vermelho turvou minha vista
como uma lista borrada de coisas a fazer.
A esperança, se é que exista,
mesmo que dista, também foi morrer.
Porque se o caminho seguido
não foi garantido de destino chegado,
Faz diferença onde sigo,
me perco, amigo, ou se espero sentado?
Meu próximo passo é desconhecido,
Se vai melhorar, eu não confio,
Mas entendo agora o que aconteceu comigo.
Porque quando morrem pelo que eu acredito,
Fingir não ouvir o grito não é uma opção.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Precipício.


Dizem que quando você olha o precipício, ele olha de volta para você, mas eu tinha certeza que ninguém me olhava naquele momento. Andei por quilômetros e caminhos improváveis para me ver o mais sozinho que eu pudesse estar. Meu grito ecoaria pelas montanhas mais próximas mas não chegaria aos ouvidos de nenhum ser humano que pudesse me impedir. Pelo caminho eu repassei todas minhas decisões que me trouxeram até aqui. Todos os tropeços e injustiças que me fizeram aos poucos perder a fé não só na humanidade como no meu próprio futuro. Viver em sociedade não me recompensava mais, o trabalho, a família, os amigos, eu era apenas um enfeito empoeirado em um móvel próximo a televisão. E foi quando percebi que eu não tinha um futuro brilhante pela frente que comecei minha caminhada. Aos poucos parei ir atrás das pessoas, com o tempo elas pararam de insistir também. Em outra cidade, minha família mal acompanhava meus passos e no meu trabalho demoraram alguns dias pra perceber que eu nem ao menos estava lá. E foi caminhando até aqui, no frio da noite e no suor da tarde, que pude entender melhor o quão pequeno eu e minhas ações somos. Deixar de lado o ideal de mudar o mundo ou de fazer as pessoas mais felizes. Separar o lixo foi em vão, assim como ajudar senhoras a atravessar a rua e me manifestar quando presenciei injustiças. Enquanto me arranhava entre arbustos e me protegia da chuva em copa de árvores gigantes, minhas preocupações foram diminuindo e com ela também minha dor. A dor de ter machucado tanta gente, de ter me machucado tanto, me culpado e conscientemente errado tanto. Por tentar corrigir meus erros tarde demais. Não ter sido forte ou insistido pra que as pessoas não fossem embora. Continuei por alguns dias, confesso que em algum momento eu perdi a conta, mas foi só quando achei onde subir e comeci a sentir o ar se tornando cada vez mais rarefeito em meu pulmão, o corpo pesado e desacostumado, que senti o peso da minha decisão. As inseguranças voltaram, o sentimendo de covardia de ter deixado tudo para trás foi crescendo com força. Agora, dando mais um passo em direção ao precipício, minhas preocupações somem novamente. Tira o óculos como em um movimento simbólico de negação da sociedade. Tiro também meu cinto e meus sapatos. Abro os botões de minha camisa e começo a sentir o vento bater em meu peito. Abro os braços naturalmente, e penso como quem está vendo de fora deve estar me achando ridículo. Me posiciono mais a frente, meus pés já fora da borda. Respiro fundo para dar meu próximo e último passo. Chegou a hora. Antes que eu pudesse me despedir de mim mesmo, perco o equilíbrio, tento me lembrar do que eu estava fazendo por um último instante. Então percebo que estou voando.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Destino.


Estou parado há uma semana tentando escolher o caminho.
Os dois lados tem rosas, os dois lados tem espinhos.
De um lado tem impulso, do outro lado estou sozinho.
Mas desse lado me sufoca, daquele eu respiro.
Os dois lados terminam muito próximo do meu destino
Mas preciso decidir urgente qual estrada que eu sigo.