terça-feira, 24 de setembro de 2019

Águas.

Debaixo da água eu tinha o silêncio
E a leveza de um mundo sem peso
Quando foi que deixei a água pra trás?
Lembro de ficar sozinho por horas
Até o sol ir embora
E minha mãe me mandar voltar

Estranho como hoje já não consigo
O silêncio incomoda
O despropósito também
Preencho com música
Todo o tempo que tem

Mas debaixo da água, 
Na calma da apneia
De repente me sinto bem
Privado por um momento 
De todas minhas sensações
Sem questões e sem ideias
Apenas eu, cercado pelos lados
Duma paz que não lembrava

Sempre subo para pegar ar
O fundo não é meu lar
Mas quisera eu flutuar tranquilo
Para sempre em alto-mar
Sem o peso das contas
E dos que contam comigo
Sendo levado por ondas
De um oceano sem perigo

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Construção.

Quem sou eu quando eu for embora
Seria ausência ou serei memória
Porque se o que eu fiz e onde estive
Definem minha própria existência
O que eu vou ser quando me faltar presença
Quando o lembrete diário de estar aqui
Não estiver mais
Quando o reforço da minha ação
Não relembrar que estou aqui
Quem eu sou longe de tudo que eu construí?

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Ingratidão.

Seguir em frente significa deixar pra trás
Mas deixar pra trás é tão pesado
Porque soa quase como um abandono, ingratidão
A gente olha pro passado e se orgulha
Vê o caminho que já andou
Vê os tropeços e acertos
Vê o tanto que cresceu
E continua o caminho quase sem pensar
Mas quando o passo é mais longo
Quando o pulo é mais arriscado
Parece que a gravidade puxa mais forte
E o ar fica mais pesado
A gente respira fundo
Mas o peito trava no meio
E olho se enche de lágrima

Não posso mais ficar parado
A curva de crescimento é lenta demais
Mas dói demais olhar o passado
E aceitar que ele ficou para trás

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Semana.

Você ouve os passarinhos lá fora?
Sente o calor do sol?
A brisa leve que não demora
E a textura do lençol
Sente o cheiro do café
Que sobrou na cafeteira
Hoje pode ser um dia bom
mesmo sendo segunda feira

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Sonhos intranquilos.

A batida do teclado ecoa na sala vazia
Mente vazia oficina de sonhos
Transporto-me para um resort em tel-aviv
Tela ao vivo transmite meu sono
Corrente invisível me prende à cadeira
Cadeia de processos me trouxeram aqui
Acordo cansado em plena segunda-feira
Consequência de tudo que apostei e perdi
Meus pais dizem que é só trabalhar mais
Meus avós falam que o melhor é após
Meus amigos, perdidos, não falam mais nada
Dividem a dor e os pesadelos de madrugada

A noite me caçam e acordo suado
Uma voz infantil, imatura e mimada
É só um sonho, diz um senhor cansado
Mas se são só sonhos
Sonhar aqui não vale nada