segunda-feira, 28 de maio de 2018

Tudo que eu perdi.

Perdi minha cidade
Não reconheço mais as ruas
Os rolês, os espaços,
E tudo que eu faço me distancia mais
Eu perdi minha casa
Não meus móveis ou minhas paredes
Mas o sentimento de lar
Como um lugar que te traz paz
Perdi minha família,
pra distância física e moral.
Fui perdendo os almoços de domingo
até o Natal não fazer mais sentido.
Perdi meus amores
Até não acreditar mais nisso.
O amor é um acordo de concessão
Que me foi tomado à força
Perdi meu trabalho,
Que é como perder o emprego mas com outro sentimento
Horas perdidas sem propósito
Minha cadeira é um depósito abandonado de talento
Perdi a esperança
De achar o que só fez sentido naquele momento
Porque ter controle é uma ilusão
Meu maior erro foi achar ter poder de decisão

E fui perdendo aos poucos
Cada parte de mim
Que habitava esses lugares,
Até me perder por completo.
Então fui obrigado a me achar
Em tudo que eu ainda tinha
Encontrar o que de mim estava acima
Disso tudo.
Se tiram o que te define, o que sobra de você?

O que eu perdi dificilmente vou encontrar,
Mas de vez em quando encontro partes novas aí.
Ainda não me sinto completo, nem sei se um dia vou sentir.
Mas talvez ser completo nem era um objetivo tão bom assim.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Caminhos.

Sonhei que estava tudo bem
Que não tinha doido tanto, sabe?
Que você tinha superado também
E que agora, caso o mundo desabe
Eu não vou ficar pensando no que seria
Se um dia, fosse diferente, entende?
Caso a gente não tivesse se encontrado
Ou nosso caminho tivesse se separado
Antes de estarmos tão distantes.
Porque não reconheço o caminho a minha frente
E o que ficou pra trás também não me diz tanto
E que se a gente chegou aqui junto
Ainda falta muito pra eu entender
Qual o destino que me espera.
Mas não fico parado,
Cada vez e cada passo,
Em busca de entender pra onde vou
O que eu sou e quem eu era.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Peixes.

É difícil ser uma vítima ocasional dos traumas dos outros. O objeto a ser descartado em momentos de perigo, o peso no navio jogado ao mar para que ele não afunde. Daí boio, à deriva, e vejo à distância o navio afundar. E em outros barcos e embarcações menores, a história se repete. Enquanto eu acredito ser o que impede a água de entrar, ao mesmo tempo eu e minha fé somos jogados fora sem pensar duas vezes. Os gritos de protesto ignorados, os avisos negados, porque não é minha função que me mantem ali. É o ego e o conforto que posso oferecer, a segurança em mares agitados. Mas na confusão e enjôo que esse mesmo mar causa, é difícil diferenciar o que ajuda e o que atrapalha no processo, e eventualmente tenho sido eu a peça descartada. Eu novamente no frio tento nadar para um lugar seguro, com dúvidas se vou conseguir. O barco afunda a poucos metros de mim sem eu poder fazer nada.

At the botton of the ocean, fish won't judge you by your faults.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Calmaria.

O sentimento de não ser necessário toma formas distintas,
pois o que poderia lhe tornar dispensável
acaba sendo justamente o que nos liga.
Quando não se precisa estar com alguém
Só a vontade prevalece
E enquanto o desejo existir, ela permanece
Enquanto fizer sentido, enquanto sentir que faz
A gente permanece junto, sem perturbar nenhuma paz

Pois é a calmaria que me atrai, não necessariamente a estabilidade
Pois nessa idade no mar, qualquer onda forte a gente cai
Então fico e peço que fique também
Porque o que não está fazendo mal
tem sido muito melhor do que o que não estava fazendo bem.