domingo, 28 de julho de 2019

O menino e o mar.

Corria em sua direção com os punhos fechados
Com a certeza de quem domina a luta
As pernas magras em passos rápidos
A barriga inchada e o sol na nuca
Mas a coragem se transformava em medo
Assim que a onda vinha na direção
Pois o mar que puxa não guarda segredo
Que voltará com ódio a quem o levantou a mão

Pobre menino, correndo sozinho
Chorando salgado, tropeçando na areia
A onda o gira como um moinho
Ralando o joelho e com água na orelha

Mas no instante seguinte o mar recua
E o menino concentra coragem no peito
Fecha-se os punhos, a bermuda flutua
Até que a onda o pega de jeito

Pequeno Quixote, sonha com gigantes
Desafia o mar mas teme a onda
Quando crescer não será como antes
O mar te procura onde quer que se esconda

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Capitão.

Mar calmo não faz bom marinheiro
Então guio o barco para o olho do furacão
Passo confiança para minha tripulação
Enquanto por dentro me tremo inteiro
Mas do outro lado tem nosso destino
A fama e glória que me prometeram
O tesouro de ouro genuíno
As praias que outros homens não conheceram

E eu finjo costume
Como de costume
Como sempre fiz
Assim guio os meus
No desejo de Deus
Contra o que eu quis

A onda levanta a proa
O mar se revolta irritado
Vira o barco como canoa
Testa meu fôlego e nado
Na praia, levanto perdido
Em meio a areia e derrota
Pior é ter sobrevivido
E ver afundar minha frota

De noite, fantasma me assusta
De dia o que me assombra é a fome
Tesouros não valem a luta
De ver morrer os meus homens

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Passarinho.

Observo o passarinho
E ele também me observa
De longe desconfio
De suas asas abertas
O galho no bico
O ninho de pedras
O canto sombrio
Prevê suas metas

Pobre passarinho
Que não sabe meus planos
Do meu sangue frio
Do meu lado humano
O que me faz sentir vivo
E minha mira certa

Rio bobo do pássaro assustado
Pobre passarinho
Com seu peito estufado
Me dá um rasante em que caio deitado
Pobre menino
Mexeu com o pássaro errado