quinta-feira, 14 de outubro de 2010

No supermercado.

Ele trabalhava num caixa de supermercado e via milhares de pessoas por dia. Alguns eram simpáticos, outros só queriam sair dali o mais rápido possível, ela parecia triste. Uma moça, não muito alta, carregando um vinho e um pote de sorvete, seus olhos inchados e vermelhos, esperava na fila. Ele passando os produtos do casal de velhinhos que estava na frente dela sem tirar os olhos dela. Nunca tinha visto alguém tão puramente bonita assim em sua vida e provavelmente nunca mais veria. Ela folheava uma revista ao lado do caixa enquanto ele passava o cartão de crédito do senhor, já impaciente com a displicência do atendente. Ela se aproxima e entrega o sorvete e o vinho. Ele balbucia "boa noite", mas nada sai de sua boca. O que ele realmente queria dizer era "Não se preocupe, eu nunca mais deixarei você sofrer. Acabou a dor agora, quanta sorte termos por ter encontrado um ao outro". Ele encarava ela enquanto pegava a nota de cinquenta em sua mão como se olhasse para a Lua em um sentimento de completa impotência e perplexidade diante da imensidão daquele satélite.
- Posso te ajudar em mais alguma coisa?
Sim, deixe ele te ajudar. Deixa ele te mostrar que o mundo pode ser melhor, que vocês podem crescer juntos, que sob a proteção dele tudo fará sentido. Dê a ele a chance de tornar sua vida melhor.
- Não, obrigada.
Ela pegou o troco, a sacola com o vinho e o sorvete e foi embora. Ele via ela se afastar em direção a porta, sem prestar atenção ao próximo cliente a ser atendido. Até que ela saiu do seu campo de visão e tudo acabou. Novamente, ele só trabalhava em um caixa de supermercado. Sem grandes ambições. Sem grandes aventura. Sem grandes paixões.