quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Festa

Ela gritava e gritava e gritava mas ninguém ouvia. Ela não estava isolada do mundo, ela só estava no seu quarto enquanto uma festa acontecia no resto da casa. Todos ocupados em conversar, beber e comer e ninguém deu por falta dela. A vontade de estar sozinha e de ter alguém para conversar se combatiam dentro dela. Ela não queria realmente estar sozinha, mas se os presentes naquela festa eram a unica opção que ela tinha, o melhor era se trancar. A música estava alta, os convidados também. Ninguém notaria sua ausência, e ainda assim ela gritava, abafando com o travesseiro para que ninguém fosse a incomodar com perguntas vazias de "Você está bem?". Era o que ela menos precisava naquele momento, um sorriso falso, atenção desatenta. Estúpida idéia aquela de achar que enchendo a casa ela se encheria também, as coisas só pioraram. Os primeiros rostos conhecidos que chegaram foram logo seguidos de mais e mais rostos desconhecidos que já se pegavam no sofá da sala ou jogavam as cinzas pela sacada. Todos se divertiam, com certeza. No outro dia se espalharia na faculdade a notícia da festa sensacional que teve na noite anterior. Quando perguntassem sobre onde ela estava, responderiam que devia estar no quarto com alguém ou saiu pra comprar mais cerveja, versões diferentes para o fato de ninguém realmente saber, muito menos se importar. A festa estava lá pronta, a dona da casa não era tão importante assim. Seu travesseiro já estava encharcado de lágrima e saliva quando ela já não conseguia mais gritar. Até que ela conseguiu dormir. Acordou no outro dia, seu apartamento estava uma bagunça. Alguns copos quebrados, uns enfeites de mesa sumidos, garrafas de cerveja vazias e cinzeiros espalhados por todos os cômodos. Mas ela achou uma coisa que a fez se sentir muito melhor: o silêncio. Ela estava sozinha novamente, mas agora era só ela de pijama em sua varanda, sentindo o cheiro do seu próprio cigarro que subia para o apartamento de cima.

2 comentários:

Aproveita e comenta aí!