sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Passeio.


O Sol tinha se escondido pra não incomodar nosso passeio, e enquanto a gente andava eu pensava o tanto que o céu nublado combinava com seu rosto, equilibrando luz e sombra de maneira a valorizar cada detalhe. Eu me espantava como com você tudo parece o videoclipe de uma banda indie. Desde a maneira como prendia o cabelo enquanto tomava café de manhã até a maneira como se encolhia no sofá, puxando a coberta para si, nas cenas de tensão do seu seriado preferido. E eu ali, de observador onisciente de um espétaculo que não era pra mim, era pro mundo. O passeio continuava e você parava para olhar de perto uma flor que crescia no tronco de uma árvore. Seu encantamento não conhecia limites, até os girassóis se inclinavam um pouco na sua direção quando você passava. Nas conversas era sempre o centro das atenções, entre amigos, familiares e até quando éramos só nós dois parecia que eu não me importava muito em apenas observar você falando sobre suas paixões. Achei que com o tempo eu me acostumaria, mas anos se passaram e eu ainda me distraia no movimento da sua boca, no toque da sua mão sobre a minha, no seu cheiro. Você era tão completa e cheia de si, que mesmo minhas falhas e ausências não pareciam incomodar. Eu somava com o que eu podia em uma pessoa que parecia transbordar em tudo que alguém gostaria de ser. Eu tentava só absorver o que você tinha para me ensinar, observar pra ser melhor. A delicadeza de cada ação, a intenção pura de quem só quer fazer o bem mesmo que ganhando nada em troca. Mas o que poderiam te oferecer que você não tinha? O que eu poderia te oferecer que você não tinha? Você resolveu parar no parque, estendeu uma toalha no gramado e me chamou para sentar. Aproveitei a grama recém molhada e me deitei no seu colo. Você enxergava desenhos nas nuvens enquanto eu, distraído, só estava feliz de estar ali. Fechei os olhos pra concentrar nos seus dedos que deslizavam em meus cabelos. Pensei naqueles que trocariam tudo para estar no meu lugar, sentir seu abraço e enxugar suas lágrimas nos dias difíceis. Ali eu me percebi feliz, como nunca tinha sentido antes. Não queria estar em nenhum outro lugar. Feliz como quando te vi pela primeira vez e entendi que você tinha me escolhido. Como quando você me convidou pra sua cama e eu entendi que ali que eu queria dormir pelo resto da minha vida. Feliz quanto quando você me apresentou pra sua família e eu entendi que em breve ela seria minha família também. E então abri os olhos, percebi que você também estava feliz. Lambi sua mão, e empurrei ela com a cabeça pra eu me aconchegar novamente. Você soltou minha coleira pra que eu pudesse correr por aí mas não tinha nada naquele parque que me interessava mais do que você.

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