quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Primetime

Ali mesmo, enquanto assistia as propagandas em meio a mais um episódio da série (que não era sua favorita mas era a que estava passando no momento), ele teve a revelação: e se sua vida for uma série de TV? Até que poderia fazer sentido, a cada ano novas pessoas entravam na sua vida, outras saíam. As vezes mudava o ambiente também, mas na maioria sempre mantinham os mesmo lugares. Sem contar que alguns amigos (e mesmo seus pais) sempre interpretaram muito mal o papel que cada um tinha sido proposto. Seria uma comédia? Bem, acho que não, visto que ele não era tão engraçado assim. Então era um drama. Apesar que... bem, não aconteciam coisas tão emocionantes na vida dele para dizer que era um drama de sucesso. Policial com certeza não era. Talvez era uma série menor, de menor audiência. Por isso não precisava ter acontecimentos tão marcantes ou personagens tão expressivos. "O Bernardo lá da faculdade é bem expressivo, né? O Bernardo sim mereceria um seriado só dele. Quem sabe um spin-off quando se cansarem de mim". Foi quando ele sentiu o soco metafórico atingindo-o sem dó e em slow motion. A metáfora era tão forte que quase o derrubou do sofá e ele já conseguia sentir o gosto de sangue na boca. Ele simplesmente não era o protagonista da série de sua vida (se é que ele ainda podia chamar dessa maneira). Existiam outras pessoas mais interessantes no mundo, por que ele seria o protagonista? Ele não era engraçado, não tinha personalidade, não lutava pelo que queria. Ele era só um coadjuvante, ou quem sabe apenas um figurante. Um figurante, com certeza era só um figurante. "E agora, voltamos com...", as propagandas acabaram, finalmente.

3 comentários:

  1. gesuiz, que pensamento perturbador!
    realmente, ser pessoa substituta, coadjuvante da própria vida, isso é tenso!

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  2. Tenso.
    Hey.
    Meu nome é Daniel, e estou postando no blog Lei de Smurfs(http://leidesmurfs.blogspot.com/). Gostaria de pedir a sua permissão para postar um ou outro texto seu no blog (com créditos e link), já que sou um grande fã das suas crônicas, principalmente.

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