sábado, 11 de julho de 2009

"E agora, Ortega?"

Tinha um garoto que sabia tudo, só não sabia como utilizar essa sabedoria. Não por uma limitação meramente intelectual de saber tanto que não se tem tempo para lidar com tanta sabedoria, mas mais por ele ser burro mesmo. Quer dizer, ele não era burro já que ele sabia de tudo, mas ele era burro por não saber usar nada da sua sabedoria. Nosso garoto não conseguia parar em emprego algum, apesar do seu enorme potencial. Sempre foi bem na escola, conseguiu se formar com louvor na faculdade, mas na vida... na vida o garoto era um pária. Sua inaptidão para lidar com situações era clara e evidente, assim ele não sobrevivia a uma entrevista de emprego sequer, todos os lugares em que trabalhou ele havia entrado por indicação de alguém que sabia de seu desempenho passado. Como não conseguia usar seu conhecimento, ele também não era muito bom com decisões. Aprender com erros não era muito fácil já que, por mais que ele soubesse que algo estava errado, seu instinto sempre prevalecia sobre sua razão.
Até que um dia ele conheceu essa garota. E essa garota era meio que o oposto dele, burra que nem um peixe dourado dentro de um liquidificador mas ótima pra tomar decisões. Apesar de não saber muito o que ela estava fazendo, ela tinha um senso crítico dos diabos e sempre fazia as escolhas certas. E com o pouco conhecimento que ela tinha, ela fazia maravilhas. Conseguiu chegar a gerencia da loja de departamento do shopping, porque organizava as coisas como ninguém. E ela que tinha feito a decoração de sua casa, de extremo bom gosto, não acha? Às vezes ela até fazia suas próprias roupas e isso tudo sem ter habilidade nenhuma, quer dizer, tirando a habilidade de lidar com o que tem.
Eles se conheceram em uma sorveteria, onde ele sabia exatamente os sabores que gostava, mas estava em dúvida em qual levar. Ela simplesmente queria todos os sabores. Ele sentou sozinho no canto e ela, impulsiva, sentou com ele e puxou assunto.
Ela - Por que você demorou tanto para escolher seu sorvete?
Ele - Eu fiquei em dúvida. Eu te conheço?
Ela - Não, só estou puxando assunto. Você sempre come aqui? Nunca te vi nessa sorveteria...
Ele - É... você se importa?
O garoto levantou e foi embora, meio desajeitado. E mais uma vez, o garoto perdeu a chance. Eles nunca mais se encontraram.