segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Sonho (Inktober #001)

Já te contei que às vezes sonho com coisas que acontecem anos depois? Lugares que eu nunca estive, pessoas que eu não conheço, todas habitando um subconsciente que não tenho controle sobre e, muitas vezes, que some depois de alguns minutos acordado.
Quando eu te vi pela segunda vez tinha algo familiar na maneira como você gesticulava empolgada sem derrubar uma gota do vinho fora da taça. Reconheci seu sorriso com se fosse a própria projeção do meu desejo, materializada diante dos meus olhos.
Assim foram todas as outras dezenas de vezes que te vi, sempre com um ar de reconhecimento e admiração, algo mágico além do meu entendimento que eu só poderia interpretar como amor.
Dias e meses e anos se passaram, a gente se gostou e desgostou, ficou e separou, até que um dia simplesmente em uma noite tranquila todas as peças do quebra-cabeça se juntaram. Você casualmente riu de mim do canto da sua sala de estar e meu cérebro resgatou a memória de um sonho de anos atrás.
Foi lá que eu te vi pela primeira vez: sentada no canto da sua sala de estar, cabelo amarrado pra cima, a luz quente iluminando seus olhos e a planta. Lembro exatamente da sua risada rindo de mim ou de algo que eu falei. Mas eu não te conhecia ainda, não sabia dos seus gostos pra móveis e muito menos do jeito que você gostar de sentar com as duas pernas dobradas na poltrona.
Eu era apenas um garoto que acordou cansado de uma noite mal dormida com uma breve e ligeira memória de ter sonhado com alguém, e hoje observo como os sonhos se tornam realidade, por algum mecanismo do universo ou alguma falha no espaço tempo que vazou essa cena pra mim.
Assim como o sonho, o momento real passa e fica a confusão: será que isso realmente aconteceu ou é apenas meu cérebro e seus truques. O mistério de ver o futuro continua mas sua explicação mais uma vez se perde para a irrelevância quanto ao todo.

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