segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Aranhas (Inktober #002)

Você ria do meu medo de aranha, como se não fosse normal temer o desconhecido. E pra mim uma aranha é tão desconhecida e perigosa como um leão na Savana. O leão, no entanto, é uma ameaça muito visível o que me dá a falsa impressão de que eu poderia me proteger. A aranha num piscar de olhos se esconde no canto de um móvel como quem planeja qual a forma menos dolorosa de me matar enquanto durmo. Convenhamos, esse é o melhor cenário, pois a aranha, destemida como só ela, pode escolher ficar parada por horas fora do alcance das nossas mãos apenas em um grande jogo de encarar pra ver quem pisca primeiro. Eu, nervoso como sempre, já perdi o jogo ao mesmo tempo que não consigo parar de olhar.
Tento também ver o lado dela, em busca de comida e proteção pra suas filhas, as milhares de aranhas que em breve estarão prontos para o mundo. Eu, o monstro gigante que com uma enorme vassoura posso acabar com todos seus sonhos e tudo que ela construiu. Mal sabe ela do medo do gigante em encarar sua pequenez.
Será se as aranhas contam histórias de aranhas que sobreviveram? Aquelas que lutaram contra a grande ameaça que nós somos e com um ligeiro golpe de sorte, foram capaz de sobrepor a ameaça que assombrava sua família e sua cidade? Será se elas choram por aquelas que não sobreviveram? As que foram eliminadas em sprays inseticidas, esmagadas ou capturadas para a morte?
Às vezes eu penso sobre minha própria insignificância ante o universo, às vezes eu penso sobre quão gigante eu posso ser. Em ambos os casos, eu ficaria feliz se você lidasse com a aranha no meu quarto.

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