terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Aperto.

O curso tem sido incrível, muito melhor do que eu esperava. O nível dos professores é algo que eu nunca vi em lugar nenhum no Brasil. Profissionais com experiência nos grandes mercados de cinema, muito conhecimento e disposição pra ensinar o que viveram. As matérias, que tem um aspecto prático em sua maioria, são bem diretas e sempre voltadas para a formação de profissionais da indústria do Cinema. É muito maior do que qualquer coisa que eu já produzi, de equipe, equipamento, qualidade técnica, etc. Alguns professores ainda se apoiam na TV e no Cinema como patamar de qualidade, sem entender direito que as formas de consumo mudaram e, consequentemene, a forma de se produzir também. A maior parte do conteúdo audiovisual consumido hoje é em pequenas telas e fora de casa, não existe a necessidade de produções gigantes se o conteúdo for relevante. Mas isso não diminui também a importância de aprender a lidar com essa outra indústria. O aprendizado tem sido gigante e com um potencial ainda maior para as próximas semanas. A cidade não me incomoda tanto, apesar de muito diferente de onde eu morava, e da língua não ser minha nativa, existe muitos lugares diferentes pra ir, muitas experiências novas, e todos, nativos ou não, sempre muito dispostos a entender e se comunicar. A solidão bate bem forte às vezes, pela falta de alguém pra conversar sobre os dramas da vida, as amenidades. A falta da Larissa e dos meus amigos. Vê-los de longe continuando suas vidas é muito doloroso, sabendo que eles estão olhando pra mim e pensando o mesmo. As festas, os aniversários, os rolês em casa, as dificuldades, os momentos de fraqueza, tudo acontecendo isolado de mim, assim como eu estou vivendo meus próprios dramas e eventos por aqui. Estar sozinho ainda dói demais. Acho que não tratei isso o suficiente na terapia, apesar de hoje lidar bem melhor do que há dois anos. Morar com brasileiros tem tornado o processo mais fácil, especialmente a host e meu roommate, muito tranquilos de lidar e sociáveis. Mas hoje, o que tem me derrubado mesmo, é a questão do emprego. Estou completando meu quarto mês sem trabalho, primeiro mês na Austrália. Tenho enviado currículos todos os dias, conversado com desconhecidos na esperança deles terem algum contato ou algo assim, mas nada. Sei que é uma indústria ruim a que eu quero entrar, eu mesmo nunca contrataria alguém sem alguma referência vindo de uma pessoa que eu confie muito, mas é difícil. Mostro meus trabalhos pras pessoas e a resposta que tenho é como ainda não me contrataram, mas os profissionais da área não se deram ao trabalho de vê-lo ainda. Preciso urgentemente de um intermediador que não achei ainda. Enquanto isso, cada pequeno gasto (nunca foram tão pequenos), cada semana que preciso transferir mais dinheiro do Brasil pra me manter aqui, é uma facada no coração. Eu que cresci sem dinheiro algum, que quase tudo que conquistei veio de um esforço direto do meu próprio trabalho, sempre acabei nessa paranóia de não ser o suficiente, de não poder consumir as coisas boas por não serem pra mim. Mesmo entender que estou aqui na Austrália é um grande passo em pensar se mereço ou não essa posição. Daí a falta de uma fonte de renda pesa demais. Não me sinto confortável de gastar 5 dólares num almoço pelo medo de que me vai faltar depois. Daí vem gastos inevitáveis como aluguel, taxas de licença que preciso para trabalhar, etc. Converso com professores, nativos, brasileiros, ninguém tem uma solução boa. Enquanto isso me mantenho diariamente mandando currículos, adicionando pessoas, forçando conversas, que, se não servem pra nada, pelo menos acalma meu peito por estar tentando algo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aproveita e comenta aí!