sexta-feira, 1 de março de 2019

Juntos.

Você soltou a mão por um segundo e me perdi na multidão de gente. Olha em volta em busca do lenço azul que você usava na cabeça não consegui te encontrar. Me preocupei que você se preocuparia sobre onde eu estava mas logo passou, é carnaval e cada um sabia bem seus próprios limites e como se manter seguro. Me deixei aproveitar as diferentes músicas que dava pra ouvir da minha posição, uma bem próxima, algo que era considerado brega quando saiu mas que hoje, vinte anos depois, ganhou status de cult e era entoado por todos a minha volta. Um pouco mais distante eu ouvia uma música que reconhecia. O ritmo e depois a letra. Lembro de adolescente ouvir aquilo na tv e me perguntar o que significa. Perdido na metáfora, que hoje eu entendo que era apenas sexo como a maioria das músicas que existem, criei minha própria interpretação quase que literal do que ela significa. Eram tempos mais puros, da minha parte pelo menos. Meu olhar continuava viajando em busca do seu lenço azul, e já pensando em como atravessar aquela multidão para o nosso ponto de encontro caso nos perdêssemos. Uma mão pousou no meu ombro e quando eu já virava automaticamente que tinha namorada, você sorridente me entregava um copo cheio de uma bebida azul. Seu sorriso me trouxe alívio e me fez perceber melhor onde estava. A atipicidade da situação, como cheguei ali, o que estava ouvindo, as pessoas em minha volta e, principalmente, estar com você me trouxeram uma sensação de leveza. Como no dia em que deitei em seu colo pela primeira vez e soube que ali eu poderia repousar. Sei que ali, no meio de milhares de pessoas, eu posso desligar minhas defesas. Os escudos e muros que construí em longos anos de exposição ao mundo e que moldaram a dura pedra dos meus valores. Por um momento, meus pais deixaram o chão pra trás e flutuei sobre todos nós. Enquanto me afastava, via quase em uma clareira, nós dois parados no meu momento de realização. Nem a música eu ouvia mais, só o bater do meu coração. O silêncio do momento indicava que eu não estava mais ali, transitava em uma outra dimensão onde coisas como essa se eternizam. Foi sua respiração próxima a minha boca que me trouxe de volta. Você repetiu o convite para irmos embora. Peguei o copo de sua mão e nos guiei em meio a multidão. Aquele dia eu voei. Não sei se vão acreditar em mim ou se um dia isso vai se repetir, mas a leveza desafia a gravidade e flutua a menor brisa. Se foi você que me soprou ou as forças da natureza, nunca vou saber. Mas lá do alto eu posso afirmar: nós somos muito bonitos juntos.

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