sábado, 21 de novembro de 2020

Explosão.

A explosão instaura o silêncio
Lá fora, nem um pio se ouve
"O que houve?" todos pensam

Tonto levanto do canto escuro
No susto nem vi a queda chegar
Duro encaro os caídos muros

Espera a ajuda mas não vem
Pega tudo que puder salvar
Deixa pra trás o que não faz bem

Lembra quando éramos felizes
Narizes juntos na noite fria
Apoio mútuo em tempos de crise

Hoje vago sozinho pela cidade
Ou o que restou depois da explosão
Um segundo acaba com uma comunidade

Carrego comigo minhas lembranças
E a esperança de dias melhores
Se não por mim, pelas nossas crianças

Poesia.

Nosso amor era prosa poética
Com métrica e rima escondida em cada canto
Ainda por cima, nossa conversa era canto
Difícil explicar a dialética
Pra alguém que nunca amou tanto
A gente sincronizava nos detalhes
No entalhe da madeira da estante
E no instante de silêncio
que se tornava um vale imenso

Por isso que senti tanto quando foi embora
Fora a falta, quanto eu queria estar ali sem você

E meu verso ficou sem rima
Complexo e sem graça ainda por cima
Uma poesia fria, sem ritmo
Palavras vazias que um algoritmo organizou
Hoje meu texto falta
Sobra espaço, desejo vital
Não recebo alta nem ponto final

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Abrigo.

Não precisa bater
A porta está aberta
Não tem hora certa
Pra você chegar

Não repara a bagunça
É que eu tô mudando
Até o final do ano
Não sei onde eu vou estar

Mas fique a vontade
Pode tirar o sapato
Você já conhece meu gato
E onde eu gosto de sentar

Aceita um café?
Eu tô sem açúcar
Fumando bituca
Pra economizar

Mas cabe mais um
Não tem muito luxo
Mas só mais um bucho
Não vai estorvar

Vou deitar um pouco
Minha cabeça doída
Minha vida falida
Quero descansar

Mas não vai embora
Vem deitar comigo
Me faz de abrigo
Até acordar

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Sozinho.

A gente não tá sozinho
Sei que parece às vezes
Quando a gente olha em volta
E não vê ninguém
Mas eu prometo
Você também não está sozinho

A gente anda tentando se esconder do frio
Chora de noite no colchão vazio
A gente luta como quem não tem chance
E tenta se manter em pé só mais um instante
Mesmo nessa hora, quando seu olho perde o brilho
Eu prometo, você não está sozinho

A gente guarda muita coisa pra si
Se joga morrendo de medo de cair
Ultrapassa limites que nunca pensou
E chega em lugares que nunca chegou

Mas me algum lugar, de verdade,
Tem alguém que sente saudade
Que torce pra que tudo corra bem
Que lembra de você quando diz amém
Tem alguém, sempre tem alguém
Esperando por você no final do trilho
Porque a gente até sente mas nunca está realmente sozinho.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Mágico.

O tempo nos engana como mágico fajuto em um cabaré
Cujo único objetivo é nos distrair da decadência do lugar
Quando você reflete se pergunta como lá se mantém em pé
Mesmo com suas paredes prestes a desmoronar
O tempo nos distrai em pequenas tarefas
Com um dia excitante uma vez ou outra
O encaixe perfeito perdido em outras peças
Num quebra cabeças escondido no guarda roupa
Quando a gente olha, não vê a magia acontecer
Atentos que estamos na mão do artista
As cartas mudam sem a gente ver
O truque acontece bem à nossa vista
O segredo então é olhar pro lado
Notar os detalhes e sua assistente
Ou talvez só ficar parado
E aproveitar o espetáculo de forma inocente

domingo, 15 de novembro de 2020

Constantes.

Me entreguei ao mar depois de desistir de tudo e fiquei lá pelo que pareceu horas na água fria. O movimento ia e vinha levando meu corpo sem resistência na esperança de que me tirasse minhas preocupações, medos e inseguranças. Sozinho, consigo viver os momentos de forma mais pura, mas sozinho também não consigo chegar nesses momentos. Um dilema que me persegue há mais tempo do que eu gostaria. E mais uma vez eu me vejo tendo que tomar frente e correr atrás do que eu preciso sozinho. Existe um limite de tempo que a gente pode esperar por uma mão amiga principalmente quando não há amigos em volta. O que eu tenho são minhas constantes: eu, a lua e, quem sabe agora, o mar. São as coisas que eu sei que sempre vou encontrar.

sábado, 14 de novembro de 2020

Asfixia.

O silêncio no meio da multidão
Ecoa em meus ouvidos
Como se vivesse em outra dimensão
Alheia aos ali reunidos
A conversa animada continua
Minha mente se percebe nua
Em um eterno sonho escolar
Que continua depois de acordar
Conexões não beiram as tentativas
E a voz se perde entre outros barulhos
Busco toque para me sentir viva
Como uma criança ansiosa abre um embrulho
Mas a mão erra por pouco
Os dedos se perdem em outros afazeres
Os prazeres mundanos causam sufoco
Sem ar suficiente para dividir com outros seres

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Cada dia.

Saí de casa em busca de afeto
Fugindo de um teto que não me cobria mais
De dia o sol me deixava deserto
De noite o frio não me deixava em paz
Voltei sozinho no primeiro dia
No segundo de novo não me acompanhei
Seguinte comi o que não me nutria
No quarto menti pois apenas chorei
E tudo se repetiu mais que gostaria
Vivi um pesadelo que não superei
Sozinho dormia e raiava o dia
Com as mãos vazias do que não segurei

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Presente.

Em cada ponto de cisão do universo
Existem versos que nunca foram escritos
Descritos opostos do real ocorrido
Que seguem pra sempre rumo ao infinito
Quem sou de lá para mim não importa 
As portas que nunca se abriram
Um quadro pintado de natureza morta
Beleza escondida que nunca descobriram
E sofro pelos nãos que me impediram
E pelos sim que me levaram pro caminho errado
Sozinho encaro realidades que sumiram
Em pontos divergentes do meu antigo passado
Do que me vale encarar um vale distante
Se no instante que penso ele simplesmente se vai
Minha mente se perde entre o depois e o antes
O presente guardado se quebra quando cai

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Praça.

Não que eu não goste de ser praça
Mas queria, só uma vez, ser casa
Me divirto com as crianças
E os cachorrinhos pulando em mim
Mas queria ser descanso
Companhia segura em dias de chuva
Queria te receber depois do trabalho
Cansado jogando a bolsa no chão
Não ser tão passageiro
Visita de domingo de manhã
Aqui as pessoas se reúnem
Se divertem e também se amam
Mas quando chega a hora
Vão embora e me deixam aqui
Então queria, só uma vez, ser casa
Não que eu não goste de ser praça
Pra não estar sozinho na hora de dormir

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Notável.

Em um relacionamento,
existem apenas dois "eu te amo"
dignos de nota:
o primeiro
e o último.

Love craft.



Querido diário, venho aqui tentar transcrever em palavras algo que me falta ainda compreensão. Algo que só tinha lido nos livros antigos e em histórias tradicionais. Algo que, quando jovem, ri da mera menção a sua existência e hoje, vendo a realidade de forma mais turva e perdendo um pouco de minha
própria sanidade, preciso lidar com os fatos os quais tão imaturamente tive que encarar. Tudo começou quando em último dezembro percorria os velhos diários de meu tio para enfrentar o tédio sufocante de outro verão no interior. Nas velhas páginas rabiscadas, de um tempo onde papel e caneta ainda cumpriam sua função primitiva de guardar segredos, encontrei um singelo recado que me chamou atenção: um pequeno papel rasgado, oriundo de um saco de pão, com uma sequência numérica intrigante e um nome feminino ao lado. Comecei a buscar em outros trechos qualquer referência ao nome "Sara", mas obtive pouco sucesso. Os números desafiavam qualquer sequência conhecida pelo homem e mesmo minha incessante busca pelos anais dos buscadores digitais se demonstrou infrutífera enquanto minha mente se tomava por uma obstinada obsessão pelos códigos em minha frente. Minhas noites eram tomadas por pensamentos errantes que me impediam de focar em outra coisa, meus dias ocupados pela busca de uma explicação. Quanto mais dias se passavam, mais distante eu me via de uma resposta. O falecimento prematuro de meu tio, o qual pouco conheci além das velhas fotos espalhadas por sua casa de campo, os empoeirados discos no armário e o diário com pequenas anotações cotidianas de seus tempos na cidade, me deixavam poucas opções além de uma abordagem mais direta dessa questão. Levei as poucas evidências que tinha em mãos e fui até a irmã de minha progenitora na vã esperança de ela abrir meus olhos para novas direções, mas fui agressivamente dispensado e caçoado pela minha obsessão infantil com aquelas informações. Dias se passaram, semanas, talvez anos, minha mente já não registrava mais o conceito de tempo linear da mesma maneira. Tudo parecia distorcido em minha própria realidade. Quanto mais encarava aquele recorte, mais confuso ficava. Talvez não fosse realmente um nome feminino, poderia ser um verbo, um adjetivo, uma sigla, a infinidade da língua e das possibilidades não-linguísticas me colocavam em uma nova espiral. O vazio dentro de mim ecoava a ausência de informação e, ao mesmo tempo, permitia que um apego inexplicável crescesse dentro de mim referente aquele mísero pedaço de papel. O números se embaralham ao olhar em busca de qualquer sentido e relação entre eles, combinações de cofres secretos em escotilhas sobre a cama, analogias a letras e outros símbolos criptografados. Minha incessante busca por um significado só tornava aquele processo, e meu tio consequentemente, ainda mais interessante e misterioso. As palavras em seu diário extrapolavam sua denotação, todo registro de compra, apostas em jogo, cada ação relatada naquelas velhas páginas escondiam em si a resolução do mistério que dominava meu pensamento. O fim de meu recesso de verão se aproximava e com ele findava também as minhas esperanças de encontrar respostas satisfatórias às minhas obsessões. Tendo checado todas as canções em sua velha vitrola, todos os livros em sua vasta biblioteca, prostrado em meus aposentos encarando a arquitetura em minha frente, tenho então um sinal que a única explicação é a verdadeira vontade cósmica dos deuses antigos de saciar essa jovem mente com um conhecimento além da verdade. O sinal sonoro que se perdeu além dos tempos, uma verdade tão pura e verdadeira, que nem o mais sapiente dos gurus poderia imaginar: um pequeno dispositivo mecânico utilizado por nossos ancestrais dava seu ressoar sonoro e me mostrava o que eu me neguei a ver durante toda minha jornada. Corro na direção de tal dispositivo como a feroz águia em direção a sua ignorante presa. Ao alcançá-lo, hesito, pois sei que a verdade está a um breve momento de se revelar a minha frente. Com minhas pequenas mãos trêmulas, giro o disco com os algarismos marcados no singelo papel. Um toque. O segundo. Sinto o suor frio escorrer sobre meu rosto enquanto meu peito palpita incessantemente, a qualquer momento... Ouço do outro lado uma voz suave, porém vivida, me saudando. Minha voz, prejudicada pela distância que me separa da puberdade, tenta parecer madura enquanto requisito que passem o telefone para ela... Sara. A doce senhora ao outro lado do telefone se identifica e ouve pacientemente meu relato. Minha pouca idade a delicia e vejo que tenho em minha frente aquilo que tanto esperava. Sara não se prende em contar como conhecera meu tio, Milton, em uma festividade na cidade, muitos anos atrás. Seu jeito galante e o nariz marcado por uma desavença anterior o faziam um sujeito cobiçado entre as outras jovens da região, mas foi por Sara que ele se apaixonou. Era comum ver Milton com buquê de flores pela cidade, encomendando discos estrangeiros para presenteá-la e até trazendo costureiras de fora para a produção de vestidos sob medida a cada evento e gala. Ele não só dava presentes, mas era presente e carinhoso, fato que o tornava o pretendente ideal aos olhos dos pais de Sara. E por dois anos, Sara viveu intensamente aquela relação, fazendo planos de matrimônio e filhos assim que pudessem sustentar seu próprio lar. Infelizmente, o Destino é um ser mais antigo que os deuses, e suas decisões pouco levam em conta a nossa vontade. Em um descuido durante sua volta pra casa, Milton perdeu o controle de seu automóvel e se envolveu em um horrível acidente. A cidade estava de luto, mas irremediável estava Sara, cujo futuro feliz ao lado de seu amor também tinha nos deixado no acidente. Os anos se passaram e a dor diminuiu. Milton se transformou em apenas uma feliz lembrança de um passado e um futuro que já não existia mais. Sara, então me revelou com sua voz embargada, que o recorte que encontrei havia sido escrito por ela, a primeira vez que Milton a abordara. Era seu telefone para que eles pudessem se contactar em uma realidade pré-internet. Agradeci, também emocionado, não só pelas respostas que tanto procurei mas também por compartilhar esse relato de um amor que sobreviveu a maior das fatalidades. Um acontecimento maior que o passar do tempo e que o entendimento humano. Um amor que para mim só existia nos velhos livros de um árabe louco e que agora estava diante de mim. Escrevo essas palavras em meu caminho de volta para minha cidade, onde nas próximas semanas retornarei a minhas atividades escolares. Divido com você esse relato pois sei que meus companheiros de estudos pouco levarão a sério a grandeza de tal descoberta. Eu, mais próximo dos meus treze anos, enfim posso afirmar que presencial algo maior do que a própria existência humana. Algo que meu cérebro ainda tem dificuldades de entender. Volto para minha vida como um novo homem, ainda com dificuldades de lidar com um sentimento de tal grandeza como o amor.

" Love Craft" (ou "Um amor além da compreensão")

domingo, 8 de novembro de 2020

Cochilo.

Os seus juramentos vazios
Que ficaram desde que você sumiu
Tudo aquilo que você não cumpriu
Quando foi a última vez que você dormiu?

A sala dela está cheia de amigos
O diálogo parece divertido
A blusa a esquenta do frio
Hoje ela tem um sono tranquilo

Não tem mais medo de sair sozinha
Ou ir de madrugada na cozinha
Ela compra as coisas que ela queria
Hoje ela pode dormir tranquila

Sua ausência não é mais sentida
Essa falta já foi preenchido
E pra quem duvidou que ela conseguia
Hoje ela pode dorme tranquila

E você, está em cima do trilho
O dedo tremendo no gatilho
O cérebro não cede ao cochilo
Mas sobre ela? Ela está bem
Hoje você pode dormir tranquilo

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A imensa lista de coisas.

Sabe do que eu mais sinto falta?
Não são as coisas que a gente viveu
Mas da imensa lista de coisas que não deu tempo de acontecer
Das tardes de piquenique
Do vinho derramado na cama
Enquanto a gente ria de uma comédia boba
Daquela vez que você tentou concertar minha camiseta preferida
E acabou estragando ela de vez
Eu sinto falta daquela vez que eu, sem graça por conhecer seus pais,
Acabei trocando o açúcar pelo sal
E o jantar foi um desastre
E aquela outra vez que, no cinema, pediram pra gente ir embora do tanto que a gente conversava sem parar
Você lembra? De cada presente que eu comprei
E que era quase perfeito, tirando um detalhe que fazia dele inviável
Tipo o número do sapato ou o livro em alemão
Das vezes que eu, frustrado com o trabalho,
Só enterrava meu rosto no seu colo
Enquanto você assistia uma comédia boba
E os restaurantes bons, mais do que isso, dos restaurantes ruins
De todas as furadas e das brigas também
Mas de como a gente fazia as pazes antes de dormir
Pra acordar bem um com o outro
Eu sinto falta do resto da nossa vida
De cada segundo que nos tiraram
E de cada coisa que nunca
Nem vai acontecer

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Luzes fortes.

Tentei te ligar
Sozinho eu cansei de estar
Só você pode me acompanhar, talvez
Larguei mão de tudo
Você nem precisa se esforçar
Só seu toque já me faz pirar, baby

Eu olho em volta e
A cidade está vazia
Dancei e ninguém me via
Não penso direito sem você

E eu: "Essa luz me cegou,
não vou dormir sem ter você aqui"
E eu: "A noite me pegou.
Você me salva quando eu estou assim"

Meu tempo acabou
Lá fora o sol já raiou
Só meu carro me acompanhou, baby

Eu só retornei pra avisar
Não quero falar no celular
Eu nunca vou deixar você

Inpirado em "Blinding lights" do The Weeknd.

Toque.

Meus dedos sentem sua pele quente
Enquanto deslisam no seu colo nu
Em uma cama pequena demais pra gente
Meus dentes cravam no seu pescoço cru
Deixo marca sem vergonha do que vão dizer
A fronha abafa o que não podem ouvir
Sussuro um segredo bem pertinho para você
Peço licença para entrar onde não quero mais sair
Aprendo movimentos rápidos e lentos no escuro
Juro que o momento parece ser eterno
O desejo vem de dentro em seu estado mais puro
Na coreografia sincronizada de um balé moderno
Deito no seu peito buscando respirar
Pira que queima de um novo jeito
Minha mente navega em um calmo mar
Sobre as ondas discretas do amor liquefeito

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Ninho.

Sinceramente? Eu não achei que estava pronto até te segurar nos braços. Foi quando eu tive certeza de que eu não estava, mas fui mesmo assim. E cada choro, cada passo, cada sorriso e cada abraço, você me dava mais certeza de que eu não estava pronto. Mas a gente se esforça, porque sua agenda não espera a minha e o dia passa e a gente nem vê. As noites sem dormir viram semanas, meses viram anos e quando segurei o choro pra te deixar pela primeira vez, você olhou pra mim e falou que estava tudo bem, que eu podia ir que já voltava. E então me acostumei com sua ausência, que começou pequena e foi crescendo, como se eu estivesse perdendo um pouco de mim toda vez que te deixava ir. Você conheceu outros, e assim sua atenção se dividia e eu sofria muito por dentro, a cada novo colega que aparecia. Depois vieram as mudanças, que te colocaram ainda mais longe do que eu queria. De repente, a gente não se entendia e você se trancava e me tratava como inimigo. Meu esforço de me fazer querido, entendido, era confundido com outra coisa que, com o tempo, só ficou pior. Eu tentava me fazer presente, mostrar que mesmo depois das brigas mais quentes, meu colo ainda estava aberto se quisesse chorar. E vez por outra eu via seus olhos vermelhos me evitando para evitar perguntas, sem saber que não tinha nada que eu queria saber além de como você estava. Assim se seguiu, você cada vez mais longe, eu cada vez mais velho. Você escolheu seu caminho, eu apoiei e fiquei sozinho, vendo você de longe ir atrás de tudo o que você sempre quis. E, foi de longe também, que você me ligou, me contando de tudo o que você passou, empolgado de estar ali. E foi ali que eu percebi, eu ainda não estava preparado, mas a gente nunca está. 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Pausa pra foto.

Pequenos momentos de alegria
Congelados para sempre em fotografia
Uma risada pega de surpresa
O prato organizado sobre a mesa
Você dorme tão bonito
Custava fazer um sorriso?
Vamos ali que o fundo combina
Junta todo mundo que tá na piscina
Hoje não que tô desarrumada
Posso te mandar uma mais ousada?
Vai lá com sua prima sem reclamar
Sobe ali em cima e finge que vai voar
Só mais uma que você piscou
Eu tava sentando quando o timer disparou
A gente deixa passar tanto coisa, sabe?
Ficamos com tanto medo de que acabe
Que juntamos fotos em gavetas esquecidas
Pastas digitais que guardamos a vida

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Culpa.

Eu esqueço mas não te desculpo
Porque a culpa pode ser um presente
O perdão nos faz imaturos
Mas só cresce mesmo quem se arrepende
Se nossos erros ficam no passado
O errado insiste em se repetir
Mas tente perguntar pro culpado
O que é tentar mas não se redimir
Não são palavras ou compensações
Não é recompensa financeira
A consequência de nossas ações
Podem nos marcar a vida inteira
Esteja preparado para receber um não
Quando pensar em pedir desculpas
Não por rancor ou obstinação
Mas porque dor passa mas cicatriz dura

domingo, 1 de novembro de 2020

Sinal.

 A gente podia combinar um sinal, sabe, tipo namorados que se olham de longe e sabem exatamente a hora de deixar uma festa? Vamos combinar. Um aceno, uma piscada, um arco íris no céu, qualquer coisa.Uma palavra de segurança, um post-it na geladeira. Mas deixa claro pra mim que acabou, pra eu jogar minhas esperanças no lixo e poder ir embora. Pra eu parar de tentar inutilmente, porque essa frustração está me matando e sei que não é o que você quer. Porque eu sei que você quer o melhor pra mim, mesmo nem raramente fazendo sua parte, e eu também quero. Mas se eu tô no caminho errado, se eu virei duas ruas antes há quilômetros atrás, me fala, porque nao é tarde demais pra eu pegar o próximo retorno e voltar pra estrada calma que eu tava. Você é cheio de mistérios, palavras certas, linhas tortas, etc. Mas comigo isso não funciona. Não quero indireta, sabe? Subtexto não é pra mim. Eu sou muito bom de fazer o que me pedem quando me explicam direitinho e, se eu tô errando tanto, dando soco em ponta de faca, batendo cabeça, o que que custa me falar que não é por aí? Eu apostei todas minhas fichas nisso aqui, mas a gente volta e consegue mais fichas pra apostar em outra coisa se precisar. Então, eu sigo esperando seu sinal. Até lá vou entender que o que me falta é esperar, que coisas boas acontecem pra quem vai atrás. Mas, sei lá, mesmo as melhores pessoas podem seguir o carro errado na rodovia. Se for esse o caso, me manda um sinal, qualquer um, mas deixa claro que é você, que acabou e que eu posso parar de tentar.


(Inspirado em "Jesus Christ" da banda Brand New)