quinta-feira, 26 de julho de 2018

Sereia.

Sou eu te guiando corredeira abaixo?
Irresponsavelmente te conduzindo pro abismo
De onde vamos cair juntos e sabe-se lá como voltar
Só porque a correnteza nos leva em uma viagem fácil
Sou eu que não nado contra a corrente
Ou te empurro para terra?
Sabendo que eu mesmo não estarei de pé no final da jornada
Por que não largar sua mão e aceitar meu destino
De barco firme e seguro lá no fundo do oceano?
Atraio a sereia para a terra e me realizo em suas realizações
Mesmo sabendo que quem não vai conseguir respirar debaixo d'água sou eu.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Amor-próprio.

Existem palavras que são difíceis demais de falar, principalmente por causa do peso que elas carregam pra gente. O significado pessoal é muito maior que qualquer definição do dicionário e seu uso indiscriminado pode gerar até mesmo um vazio semântico. E quando você acha que ultrapassou a maior barreira do mundo em dizer algo para alguém, você percebe que voltar aquilo para o outro é bem mais fácil do que para si mesmo. Não que você não seja merecedor, muito pelo contrário, racionalmente entende e construiu seu mérito, mas falar isso voltado para si se mostrou quase impossível. Porque entende perfeitamente o que aquilo é para o outro, e como identificar, mas para si já não tem tão claro assim. Desviando de clichês de propagandas motivacionais, onde o discurso se esvazia mais uma vez, agora com ambições comerciais, você sabe que não é só aquilo. Não é raso, não são pequenas ações, não são pequenos momentos para si, é algo maior e, por enquanto, difícil de identificar. E quando a própria indefinição de algo que poderia ser tão clichê te afeta de um tanto, difícil explicar que sua tristeza não originada de outro, e sim de uma frustração (decepção talvez) de não conseguir aplicar ou aceitar algo que parece tão claro e tão óbvio, por simplesmente não ter certeza do que é que aquele sentimento significa quando voltado para si. E de todas as dificuldades em externalizar isso, o mero fato de escrevê-lo já se mostra outra barreira, buscando novamente o atalho da descrição em uma análise racional só para não ter que escrever realmente o que é tão difícil falar. Fica no ar então.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Ilumina*.

Não seja tecnologia
Como se eu pudesse desligar seu amor em uma máquinha fria
Não me alimente seus restos
Não sou um vira-lata em sua cama em busca de afeto

Não ondule,
sele meu destino, marinha
Me iluda que me procura
e seja minha isca, seja minha

Não seja o tom que não consigo
Ou o caso que de tanto contar ficou antigo
Não seja a mão na minha garganta que me asfixia
Se é minha amiga porque você não quer ser minha família?

Então, se formar uma
Não me assuma
Seja minha isca, seja minha
Seja minha calmaria

Você entende o que eu digo? (me contradiga)
Você me traz luz mas não me ilumina
Você não é minha (então me diz quem eu sou?)

(Tudo queima)
Por fora sinto sua boca fria
(Esteja aqui)
Você me traz luz mas não me ilumina
Você não é minha

Então, me engana que me ama
e seja minha isca, seja minha



*Livre tradução de "Not The Sun", por Brand New.

Morada.

Vem morar no meu peito
Se sua casa já não é lar
Deixe eu me adaptar ao seu jeito
E faz de mim o seu lugar
Posso ser o porto-seguro
Se você está perdido no mar
A parada no meio-caminho
de alguém sem pressa de chegar

E se precisar partir, leve parte de mim
De suprimento para uma viagem extensa
Porque é bobagem pensar em fim
Do que é maior do que a gente pensa
E se precisa voltar, não precisa temer nada
Se sua casa não for seu lar,
meu peito ainda será morada.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Fazer por.

A motivação deve estar no ato
e não na pessoa
Porque o ato termina em si
E a pessoa continua lá
Frustrando expectativas
Com reciprocidade não vinda

Daí cabe diferenciar fazer algo por
Do que fazer algo para
o "por" indicar motivação
o "para" indica alvo
Assim você dorme tranquilo
Mesmo que o mundo seja ruim