quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Livro aberto.

Estampo desenhos em minha camiseta
Como cartão de visita que me apresenta
À primeira vista me visto
Ciente das vantagens e do risco
Toco os discos que me tocam
Vejo filmes que inspiram
Mostro o caminho e ondem moram
Os que duvidaram e os que riram
Falo sobre o que eu amo
E amo o que me dá embalo
Sorrio pra quem está aberto
Me abro quando eu não me calo
Meu livro está sempre disponível
Pra quem se interessar em folheá-lo
O medo do toque é visível
Mas o abraço me abre num estalo

Um passo de cada vez.

Você foi muito corajoso, sabe? De agir como agiu. Sua firmeza diante de perder tudo foi invejável, e eu sei que você perdeu tudo. Mas quando empurram a gente, de pouco adianta olhar para trás, melhor aproveitar o impulso. E do tropeço você fez caminhada, e da caminhada você se salvou. Pensar em você foi novo mas fez total diferença. A gente demora a entender nossos limites e você, sem saber direito os seus, aceitou o desafio de tatear até a saída. Mesmo quando o impacto pareceu forte demais, sua cabeça guiou você para a porta que o levou em lugares que você nem imaginava. Labirintos e corredores que se revelam quanto mais você avança e que, mesmo quando não chegam onde você espera, ainda passam a segurança de estar seguindo em frente. E você seguiu. Passos lentos e incertos, mas usando a gravidade ao seu favor. Aprender a estar sozinho foi uma vitória, assim como reaprender a estar com o outro. E, como em tudo sua história, você continuou fazendo o que fez sentido e o que era capaz. Não houveram portas erradas, mesmo que às vezes elas nos levassem a outros lugares. Aceitar outros de você, que não condizem com a imagem que você mesmo montou, também não vai ser fácil. O personagem não atende mais a demanda, chegou a hora de checar a máscara e descobrir o quanto dela tem seu rosto. Os tropeços serão outros, e você vai sobreviver sem traumas. Então, confie em mim, segue em frente. Você tem muito a aprender no caminho. O peito aberto, de ferida, também deixa entrar muita coisa. Ela cicatriza e as marcas nem são feias. Entegue-se quando se sentir seguro e deixe as coisas irem quando não sentir. O barco flutua mas a praia está próxima. Então aproveite o balançar do mar e o teto de estrelas para fechar os olhos e limpar a cabeça. Eu não sei o que vem a partir daqui, mas sei que chegamos, então relaxe. O segredo é seguir em frente, um passo de cada vez.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Beijos são tão engraçados.

Beijos são tão engraçados. Como um mínimo toque entre pessoas transmite energias tão grandes. Elétricas e sentimentais. Beijos são tão engraçados. Você massageia a pessoa ali de uma forma diferente e parece que tudo faz sentido. Beijos são tão engraçados. Trazem conforto, carinho, amor, tesão, e na verdade são só lábios encostando um pouquinho. Beijos são tão engraçados. É como ligar algo na tomada e deixar lá esquentando. Beijos são tão engraçados porque podem significar tanto e tão pouco ao mesmo tempo. Beijos são tão engraçados, que às vezes quando não encaixa a gente se frustra, mas tem vez que rimos mesmo. Beijos são tão engraçados que quando você beija várias vezes a mesma pessoa, o beijo de vocês vira uma mistura entre o seu beijo anterior e o beijo dela. Beijos são tão engraçados. Às vezes vem de manhã antes mesmo do bom dia. Beijos são tão engraçados. Como aquele momento mágico pré-beijo, onde o coração bate forte e você sente o cheiro do rosto da outra pessoa e você se aproxima só o suficiente pra que ela possa ser a responsável por beijar realmente. Beijos são muito engraçados. Trocam-se bactérias, salivas, gostos, jeitos, sorrisos de lado, impulsos elétricos, mãos que deslizam em um abraço e pressiona um corpo contra o outro. Beijos são tão engraçados. Na velocidade certa, na errada, quando o rosto não encaixa, os óculos batem e os aparelhos se encostam. Beijos ruins também são engraçados. Porque o rosto bonito e a conversa boa não é garantia de química. Beijos são tão engraçados, porque se eu quero e você quer, não tem nada errado em tentar um beijo nem que seja pra gente rir disso tudo depois, afinal, beijos são tão engraçados.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

As vezes que eu morri.

Morri bem novo na praia e um anjo me salvou, me jogando contra a correnteza para os braços do meu avô. Morri também na piscina, numa quina traiçoeira, que marcou meu rosto e minha memória. Morri aos dezesseis, com um beijo e um coração partido, um ano depois, na mesma boca renasci fortalecido. Morri com uma chave que me trancou fora de casa e me obrigou a ir na janela desenvolver minhas próprias asas. Morri anos depois, quando fui pai dos meus próprios pais, e o choro abafado que seguiu eu não esqueço nunca mais. Morri quando traí uma amizade que amava, em busca de um amor que também me completava. Morri com os corações que parti sem intender, mas boas intenções também não os impediram de morrer. Morri ao achar que tudo estava conversado, e morri de novo ao entender que nem sempre o que é entendido é o que se é falado. Morri ao entender que bom trabalho não garante, e que mesmo sem impulso a solução é ir adiante. Morri na insegurança do outro que me matou diversas vezes, e mesmo tendo sobrevivido a dor ainda doerá por meses. Morri ao olhar em volta e não reconhecer onde estou, e buscar outros lugares é entender quem eu sou. Morri ao olhar pra trás e não saber de onde vim, mas isso é passaporte para onde eu quiser ir. Morri muito mais vezes do que eu precisava ter morrido, e sei que vou morrer muito mais vezes no caminho.

Aqui.

Fecho os olhos e dou o próximo passo
Porque quando o destino não importa
Muito menos importa o espaço
O trajeto a gente tateia,
Piso firme na areia
Em uma pista torta e desgastada
Que leva onde não se espera nada
Tenho em mim um mundo que não me cabe
Saber o que eu sou e onde está
Mas quando aqui não me completa
É porque posso estar em qualquer lugar

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Túnel.

Sigo perdido em direção a uma luz distante
Tento tatear a parede fora do meu alcance
Cada passo incerto me leva pra mais perto
Mas tropeço e caio em mais um bueiro aberto
Levantar gasta a energia que não tenho mais
Em um esforço gigante de não voltar atrás
Novas barreiras cobram que eu me reinvente
Mas a única certeza é que ainda tenho muito pela frente.