quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O garoto que bloqueou.

Eu te perdoo porque eu sei as condições das suas escolhas. Eu sei que não é fácil enxergar quando nossa cabeça está confusa. Quantas vezes fui eu que julguei errado e acabei te machucando? E não foi um desses erros que lá na frente estragou tudo? Espero que você possa me perdoar um dia. Mas, assim como você, é difícil demais esquecer. Porque você muda de cidade, sai do meu caminho mas todo quadro meu ainda tem seu rosto. E por mais que você escute minhas reclamações/acusações/frustrações, não desfaz tudo o que aconteceu e não diminui o quanto doeu e o quanto me machucou. Minha pele é fina mas nem toda cicatriz deixa marca e, seu pedido de desculpas só me deixa ainda mais triste. Se você entende a dor que causou hoje, porque não tentou me entender naquela época? Enquanto, entre lágrimas e gritos, eu tentava me fazer ouvido? Eu apostaria em você sem hesitar mas, sinceramente, eu perdi todas as apostas até agora. Eu te perdôo, mas eu não posso esquecer. E, enquanto eu ainda sentir dor, você vai me sentir no cheiro da chuva e no sangue nas suas veias.

(Inspirado em "The boy who blocked his own shot" da banda Brand New)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Possibilidades.

 Eu dedico essa música pra você

Porque ela me acalma
Como a textura da palma da sua mão
Como sentir sua respiração
Na minha nuca antes de dormir

No campo das possibilidades
Não vejo porquê não pensar
Nas danças, nas risadas
Nas crianças esperando na calçada
Você atrasada de novo pra buscá-las

Eu volto pra pegar sua bolsa
E trago qualquer coisa do mercado
Me diz, do que você precisa?
Me diz o que você quer
Só me diz, sem medo,
não guarda segredo
de mim, por favor

Me prendo nos pequenos atos
Amo relatos de um dia normal
Em como você ocupa o espaço
Como um interlúdio musical
E quando acaba sobra silêncio
Ecoa no mármore monumental
No vazio de um saguão imenso
Sentado sozinho no primeiro degrau

O acaso.

O acaso às vezes apronta uma, né. Voltando da escola, começando o segundo semestre, depois de meses de incerteza sobre aulas onlines e/ou presenciais, sem saber direito como as coisas seriam por agora. Na primeira aula de direção (de cinema, não de carro), o professor começa a indicar que provavelmente vamos usar o roteiro que eu escrevi no semestre anterior com a produção. Fiquei feliz do meu jeito, com todos os pés atrás até realmente as coisas acontecerem. Mas, no caminho de volta, bateu. Bateu demais o quanto as últimas semanas eu tenho ficado triste, preocupado com dinheiro, com minha cabeça. Bateu demais o quanto tem sido frustrante procurar emprego em um momento onde ninguém está contratando, mesmo os trabalhos que eu nem queria pegar. Bateu demais se sentir sozinho, longe dos meus amigos, da minha família, de todo mundo que eu amo, e não saber direito o que vai ser daqui pra frente. Hoje um dos professores me perguntou por quanto tempo eu consigo me manter ainda. Mais um mês? Dois? Não sei. E nisso me deu uma vontade de chorar gigante. E foi tentando ao máximo segurar pra não chorar muito na rua que fui andando até uma pracinha pequena no caminho, pra eu ficar sozinho um tempo e poder tirar isso de dentro de mim. Mas o acaso, né. Logo que eu sentei uma senhora bem velhinha chegou com seus cachorros e ficou conversando comigo, um dos cachorros parou do meu lado pra pedir carinho. Foi bom, me distraiu, tirou um pouco o peso do que eu tava carregando. Ela perguntou se eu era novo ali (me mudei tem uma semana), me contou do neto que voltou a estudar esse semana também e que tinha muito tempo que não fazia tanto frio, que era pra eu me agasalhar mais. Eu, mais calmo, agradeci a preocupação e a conversa e voltei pra casa sorrindo.