segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Soneto insone.

A tristeza fica a espreita de qualquer desatento
Esperando atrás da porta pra me pegar de surpresa
E se eu tento disfarçar o que eu sinto por dentro
Ela me destrói como um predador destrói sua presa

Tristeza como lágrima que insiste em não cair
Para crescer em angústia me digerindo aos poucos
Sorriso que disfarça o que tem dentro de mim
Impacto que deixa marcas e dói mais que um soco

O braço estica mas não alcança nada
O pé pisa mas não encontra o chão
O pulmão infla quando o ar acaba

Você segura mas não encontra a mão
E seu grito o travesseiro abafa
O tempo bate mas não o coração

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Um dia.

Um dia você passa pela porta pela última vez
E tudo que está lá dentro fica pra trás
Tudo o que você foi e o que você fez
Guardados em um lugar que não te pertence mais

Um dia você deixa de se sentir em casa
E percebe que nunca mais vai se sentir assim
A gente cresce e falta espaço pras nossas asas
Cria raízes mas se sente preso no jardim

Um dia o vazio no coração
Fica maior do que o vazio da mudança
Roupas e livros em caixas de papelão
Sem ouvir música não tem como continuar a dança

Um dia você se pergunta se deve olhar novamente
Pra guardar uma imagem daquilo pra sempre
E quando olha, não reconhece o que sente
Se é alívio de ir embora ou medo de seguir em frente