quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Construção

As proparoxítonas sempre foram as mais isoladas de todas. Enquanto todo mundo ralava pra decorar as regras de acentuação das oxítonas e das paroxítonas, as Propas (como carinhosamente as chamarei daqui pra frente) sempre foram deixadas de lado. Todas são acentuadas, então se aparecer alguma pela frente é só colocar o acento lá na antepenúltima sílaba que tá tudo bem. Não só as Propas não atraíam simpatia de ninguém, também tinha muita gente que realmente não gostava delas, afinal, não é qualquer um que está disposto a sair engolindo um monte de sílabas depois da tônica só pra contentar uma classe de palavras. Passaram por várias reformas ortográficas, mas nunca chegaram a sugerir a retirada do acento das Propas (já que todas tem, que tire todas!) na esperança de que, simplificando, elas atraíriam mais fãs ou, ao menos, simpáticos a causa. E por muitos e muitos anos as Propas ficaram na periferia da Gramática.
Até que chega 1971 e as Propas são salvas. Sim, aquele sujeito de olhos azuis que encantava as mocinhas de sua geração (e se descobriu depois, das gerações seguintes) chega em seu cavalo branco para salvar todas as Propas em uma só espadada. Chico mostra que elas não só podem contar uma bela história, como podem dançar e trocar de lugar entre si sem perder seu lirismo. Não só a vida das Propas agora tem um sentido  como elas foram colocadas em lugar de destaque nesse mundo. Elas não precisam mais da nossa simpatia, elas estão lá em cima, nos olhando com pena enquanto procuramos por respostas. Elas já sabem porque existem, e você? Pra que veio ao mundo?