quarta-feira, 20 de junho de 2018

Chamas.

Observo o quarto em chamas
Hipnotizado pelo fogo
Digo que logo vou mas continuo
Você diz que me ama
E eu não escuto
A fumaça torna meu olho turvo
Enquanto vejo tudo queimar

Minha obra de arte em cinza
Pintada em paredes brancas
Caminho em direção a cama
Pra dormir sem precisar acordar
O despertador derrete em sonhos
A fronha do travesseiro acende
Paro o tempo por um segundo
Solto a mão de quem me prende

Caio num abismo escuro
A queda não parece ter fim
Não sinto mais o calor de fora
Muito menos o que havia em mim

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Encontro casual.

atravesso os corredores
cercados de prateleiras
para dar de cara com você
revivo minhas dores
em plena segunda feira
sem saber o que fazer
o sorriso sem graça
de quem não esperava
lidar com isso a essa hora
da manhã
e torcendo pra que amanhã
pelo menos o destino tenha pena
me fazendo virar em outra esquina
e evite essa constrangedora cena

terça-feira, 12 de junho de 2018

Carta.

Encontrei uma carta sua aqui
E me perguntei como não percebi
Que as coisas já tinham desandado
Acidente causado por um trem descarrilhado
Já tinha passado tem tempo
O limite do bom senso
Do que faz bem, do amor imenso
Era natural que acabasse
Só eu mesmo que não percebii
Porque eu pensei que quando acabasse
Eu não iria estar aqui

Mas hoje que não dói mais
Vejo que não tinha o que fazer
Porque quando um não quer
Já acabou.
Sobra só sofrer e esperar que passe logo.
Joga as cartas no fogo,
E no lixo as fotos.
Mas hoje não dói mais, hoje não dói.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

O que eu sou.

Eu era minhas camisetas
Meus quadros na parede
Eu era minhas canecas
Os versos citados
E as imagens na pele
Eu era a referência ao filme
Ao livro, eu era tudo que me marcava
Eu era fácil de ler
E fácil de agradar.
Me identificava com tudo que ressoava em mim.

Mas aí deixei de ser nós
E aos poucos fui deixando de ser tudo
Até sobrar só o que eu sou
Meus atos e minha presença física
É só o que posso oferecer

Eu não me identifico mais
Perdão a quem se via em mim
Mas tirando tudo o que eu já fui
Só sobra o que realmente sou