quarta-feira, 29 de junho de 2011

Rabiscos.

Sentada no canto da sala observando as pessoas ignorarem o professor. Mas quem era ela pra julgar já que ela estava fazendo o mesmo ao prestar atenção nas pessoas e não na aula? Ela começava a rabisca seu cadernos, pequenas histórias que nunca viriam a público sobre um casal de personagens fofinhos e de olhos grandes que se encontrava e desencontrava no meio de fórmulas químicas ou definições de gramática. A menina era ela mesma, o menino era um aglomerado de personalidade que um dia a trataram mal e, provavelmente por isso, ela amou loucamente. Às vezes ele era mais passivo, fazendo todas as vontades dela, outras vezes ela que sofria na mão do outro personagem.. Tudo dependia do clima da sala, do seu humor ou mesmo da matéria que estava sendo lecionada. Hoje os dois se amavam, mas um muro alto os separava. Ele tenta inutilmente fazer um buraco no muro, ela cavava para tentar passar por baixo, ambos querendo encontrar-se um ao outro.Um terceiro personagem chega e observa os dois, ele chega perto dela, segura sua mão e a guia ao outro lado do mundo, simplesmente dando a volta, juntando assim os dois. Às vezes tudo que se precisa é de um terceiro pra apontar o que está errado. Bate o sinal indicando o fim da aula, ela guarda seus materiais de qualquer jeito e sai da sala sem falar com ninguém.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Todas vocês por cada um de vocês (por mim).

E ela ficava horas no seu computador escrevendo poemas sensíveis, reflexões profundas, coisas importantes sobre ela e sobre quem estava a sua volta. Atualizava seu blog diariamente com citações de filmes europeus, clipes de bandas inglesas ou vestuários que estavam usando na Itália. Era aquela a forma que ela escolheu pra se descrever ao mundo, era daquele jeito que ela queria ser vista. Pessoalmente ela era calada, se vestia esquisito que combinava com o cabelo esquisito e fumava um cigarro de cheiro esquisito, muito mais por escolha estilística do que por gostar realmente daquilo tudo. Tinha grandes fãs por aí e carregava aquele ar intocável, onde todos se sentiam amedrontados para oferecer uma cerveja ou puxar assunto casualmente. Ela postava fotos de gente esquisita como ela, que provavelmente vive em algum país europeu. Velhas divas do cinema em seu auge, pin-ups, James Dean, Marlon Brando e Paul Newman. Frases descontextualizadas e ilustradas com um ar de blasé para passar o quanto cada um sofre por amor mas ela é melhor que tudo isso. Sofre calada na frase dos outros que são grandes frasistas. E pra suas próprias frases ela reserva o mistério e a ambiguidade de quem quer se abrir só pra quem a entende, no fim não se abrindo pra ninguém. Suas amigas seguem o mesmo estilo, clube fechado de piadas internas sempre andando com o cara errado que, por acaso, nunca é vocês. Uma cerveja alemã impronunciável entre um galão de vinho vagabundo e outro, as vezes até algo mais pesado. Tudo isso entre poemas infantis, reflexões sem nexo e coisas que ninguém se importa sobre ela e sobre quem estava a sua volta escritos por horas em seu computador. Você a conhece, provavelmente já até gostou dela, essa imbecil que habita sua timeline.

domingo, 26 de junho de 2011

Espelhos

O primeiro passo foi tirar todos os espelhos da casa. Se ela não podia ver sua própria imagem, ela podia se imaginar como quiser. E com um pouco de esforço, ela já conseguia se ver como queria quando era obrigado a passar por alguma superfície refletora. Cabelo, maquiagem, vestido, ela já conseguia se arrumar sem a necessidade de se ver e a medida que ela não se olhava, reforçava a imagem mental, a versão idealizada de si mesma. E com a certeza de que ela era realmente daquela forma, não foi tão difícil convencer os outros. As pessoas já acreditavam e reforçavam tudo que ela acreditava ser. Poucos eram o que a conheciam antes da transformação e menos ainda eram os que a conheceram depois e conseguiam enxergar isso. Era tudo muito cômodo, poder manipular sua própria imagem e tinha começado com um simples ato de retirar os espelhos da própria casa. Se ela acredita que pode ser o que quiser, quem vai dizer que aquilo não é ela mesma? A verdade é individual, apesar de todos quererem convencer uns aos outros da sua própria verdade. A verdade dela era aquela e enquanto ela quisesse olhar para tudo que não seja a si mesma, ela pode acreditar no que quiser.

Versões.

Há alguns meses me falaram que eu tinha que mudar e eu não levei a sério. Falavam coisas sobre comportamento diferentes em diferentes situações e eu argumentando que eu era um só a todo momento, apesar de todos acreditarem que cada "aquele" que eu era, era um personagem montado "praquela" situação. Consegui mostrar que aquele era eu mesmo e estava em todas as situações. Sou a mesma pessoa na internet, na faculdade, no bar e em casa. Faço as mesmas brincadeiras e piadas (constrangedoras ou não) em ambientes familiares ou no meio de amigos. Essa constância já me colocou em situações ruins mas acabei optando por mantê-la, pois sua falta de mutabilidade também faz parte do personagem. Mas refletindo sobre tudo isso, acabei encontrando sim minha outra personalidade. Uma personalidade que não anula ou contradiz a primeira, mas é diferente em quase todos os aspectos. Descobri em mim alguém que não está na defensiva sempre, alguém aberto a falar sobre si e sobre coisas importantes para mim, alguém que só aparec(ia)e em raros momentos de confiança e intimidade para pouquíssimas pessoas. Alguém que meus amigos já conheciam mas que se esconde pro grande público. As pessoas não sabem lidar com informações e inconscientemente escondi informações sobre mim. Hoje vejo (ou pelo menos justifico pra mim) que tudo isso foi e ainda é válido. Não posso abrir a guarda pra qualquer um, não posso prever como essa pessoa vai lidar com informações que são tão importantes para mim. E no final de tudo, eu mudei. Em um processo natural que aconteceu nos últimos meses, comecei a encarar as pessoas e os acontecimentos de uma forma diferente, é tudo mais pesado mas ao mesmo tempo tudo parece ter uma importância maior. Um pouco como a diferença entre tomar um soco de um desconhecido comparado com um tapa de alguém que importa para você. O segundo machuca muito mais a longo prazo. Consigo apontar umas quatro versões de mim nos últimos meses, e não me espantaria se daqui a alguns meses eu tenha virado uma sexta ou sétima versão de mim mesmo. E cada vez mais sou obrigado a deixar pra trás coisas que eu acreditava, que eu era e que fazia parte de mim, para adicionar novas coisas. Ciclo de pessoas, ciclo de lugares, ciclo de crenças. Acho que o importante no final é nunca deixar de ser eu mesmo, mesmo que "eu mesmo" mude sempre.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Maturidade

Cobrar maturidade das pessoas sempre foi algo muito imaturo. Ninguém vai mudar por sua causa. Todos temos nossos momentos  de extrema infantilidade e momentos onde nossa experiência em certo assunto realmente é maior. Hoje eu vejo a mim mesmo com 18 anos e vejo o quão imbecil eu era. Claro que comparado com outras pessoas naquela idade (no meu ponto de vista) eu era bem sensato, mas pensando em mim agora eu vejo o quanto os últimos anos me fizeram bem. Então quando eu vejo alguém agindo infantilmente, tudo que eu espero é que no futuro, essa pessoa pense nela no passado e sinta vergonha de ter sido tão imbecil. Mas você pode argumentar que eu falei muito sobre não ser maduro pra no final pagar de maduro, nada mais justo, mas não estou aqui para apontar pra ninguém, o objetivo é só refletir sobre mesmo. Acho que deveria existir uma cota de maturidade para o dia, ou até para o mês, assim tiraria a culpa de ser imaturo. Aí nós julgaríamos não pelo "nível" de maturidade de alguém, mas sim pelos momentos onde cada um escolho ser maduro ou não.