segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Vida.

O primeiro passo é um grande passo
Assim como as primeiras palavras
A pureza de quem corre pra um abraço
O carinho sincero de onde não se esperava

Pouco depois vem as primeiras quedas
Os primeiros choros não remediados
O primeiro trauma que não se supera
A primeira fagulha que marca o passado

Então você tenta descobrir quem é
Não encontra-se em lugar nenhum
Você não sabe direito o que quer
E não acha mais nada em comum

A vida então traz responsabilidades
As contas, empregos e amores
Outras coisas que vem com a idade
Outras formas de curar suas dores

Mas tem uma hora tudo passa
Porque o tempo passa sem lhe perguntar
Você olha pra trás e acha graça
Até chegar sua hora de descansar

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Tempo.

Nem sempre o laço nasce forte
E muitas vezes ele afrouxa com o tempo
Para poucos que guardam sorte
Os anos reforçam esse sentimento

Momentos passam batido
Outros duram como cimento
Cortes curam como se não tivessem doído
Cortinas descansam como se não houvesse vento

A base, mesmo que fraca, aguenta,
Se a estrutura não pesar pro lado
Com boas paredes a casa sustenta
Todo o peso que cair no telhado

E o tempo, esse passa voando
Como quem pouco se importa
Daqueles que vão pra janela quando
Não conseguiu entrar pela porta

Hoje já coloco meu pé no sofá
E levo o lixo pra fora
Como quem sempre esteve lá
E não tem hora pra ir embora

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Conto.

Quando se conta uma boa história
As pessoas sempre querem mais
Elas esperam pelas derrotas e vitórias
Anseiam pela guerra e pela paz

E cada capítulo que passa,
Que traz mais daquele mundo,
Traz pro real muito mais graça
Deixa seu sentimento mais profundo

Então não tenha medo de continuar
Porque o final pode ser só um ponto
Que alguém colocou sem querer

Se uma vírgula entrar no lugar
Abre espaço para um novo conto
Seu leitor vai agradecer

Chegada.

Vem, beija a vó
Pede bença que chegou
Pergunta como foi
e porque que demorou
Bebe água
Lava a mão
Já comeu?
Diz que não
E as coisas
como estão?
O que que conta?
E a escola?
As namoradas?
E o clima, como tá
Tem chovido
Sem parar?
Continua,
como sempre,
Tempo seco
Clima quente
Deita um pouco
Viagem longa
Toma banho
Trouca de roupa
Vai ter língua
Pro almoço
Frango cozido
Rói o osso
Lava o prato
Enxuga e guarda
A sobremesa
Na bancada
À tarde bate
Um sono leve
O sol esquenta
A minha pele
O dia cai
Com meus olhos
Acordo logo
E reaprumo
Vejo a novela
Palavras cruzadas
Conversas cruzadas
Janta, lava, deita
Bom dia a todos
Lê o jornal
Lava o rosto
Pão de doce ou sal
Uma fatia de queijo
Outra fatia
Só mais uma
E mais uma fatia
Volta pra sala
Escolhe um livro
Tenta não dormir
Desce pro mercado
Revê amigos
Lojas, produtos
Vai ao shopping
Compra presentes
Volta pro almoço
Pra não perder carona
Todos comem
Falam dos outros
Arrumam cozinha
Deitam de novo
Pra mais tarde
Comer, conversar
Em frente a tv
Se arrumar 
E dormir novamente
Siga assim
Até chegar o dia

De voltar

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Casa.

Vamos construir uma casa
Que caiba todos nossos planos
Caiba os filhos e seus filhos
Dê um teto e dure anos

Que os discos e os livros
Não se cansem de tocar
Onde todos se reúnam
Sempre à mesa de jantar

Que as diferenças se resolvam
Em palavras, não em punhos
Que o perdão seja o rumo
E o coração seja mais puro

Que os muros tenham portas
E que as deixem abertas
Que ventilem as janelas
Que importa se lá chove
Molha o chão mas traz a calma
Que descansa pós-domingo
Recolhe a roupa e lava a alma

E como pedra, ela dura
Mira longe, acerta em cheio
Cada muro e sua textura
E o amor em seu recheio

domingo, 10 de novembro de 2019

Fantasia.

Me disfarço de adulto
Como quem se veste de palhaço
Faço os movimentos certos
Com os sorrisos e os passos
Ser adulto é nada mais
Que fingir até colar
Até ser tarde demais
E não dar mais pra voltar
Por isso brincar é essencial
Ver brilho onde não tem
Entrar em nave espacial
Conversar com o além
Ver a vida em aventuras
Sob cachoeiras e outras matas
Fingir ter medo de altura
Enquanto ajeita sua gravata