quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Ninho.

Sinceramente? Eu não achei que estava pronto até te segurar nos braços. Foi quando eu tive certeza de que eu não estava, mas fui mesmo assim. E cada choro, cada passo, cada sorriso e cada abraço, você me dava mais certeza de que eu não estava pronto. Mas a gente se esforça, porque sua agenda não espera a minha e o dia passa e a gente nem vê. As noites sem dormir viram semanas, meses viram anos e quando segurei o choro pra te deixar pela primeira vez, você olhou pra mim e falou que estava tudo bem, que eu podia ir que já voltava. E então me acostumei com sua ausência, que começou pequena e foi crescendo, como se eu estivesse perdendo um pouco de mim toda vez que te deixava ir. Você conheceu outros, e assim sua atenção se dividia e eu sofria muito por dentro, a cada novo colega que aparecia. Depois vieram as mudanças, que te colocaram ainda mais longe do que eu queria. De repente, a gente não se entendia e você se trancava e me tratava como inimigo. Meu esforço de me fazer querido, entendido, era confundido com outra coisa que, com o tempo, só ficou pior. Eu tentava me fazer presente, mostrar que mesmo depois das brigas mais quentes, meu colo ainda estava aberto se quisesse chorar. E vez por outra eu via seus olhos vermelhos me evitando para evitar perguntas, sem saber que não tinha nada que eu queria saber além de como você estava. Assim se seguiu, você cada vez mais longe, eu cada vez mais velho. Você escolheu seu caminho, eu apoiei e fiquei sozinho, vendo você de longe ir atrás de tudo o que você sempre quis. E, foi de longe também, que você me ligou, me contando de tudo o que você passou, empolgado de estar ali. E foi ali que eu percebi, eu ainda não estava preparado, mas a gente nunca está. 

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