quarta-feira, 31 de maio de 2017

Conversas vazias.

Conversas repetidas, vazias sem nexo
Disfarçam o complexo medo de estar só
E se a distração do momento vale ouro
É triste ver todo esse tesouro virar pó
O eco na cabeça das palavras ditas
Automaticamente respondidas no impulso
Tiram a atenção da apatia e falta de pulso
Da indiferença de estar ali.

Mas em algum momento o corpo cede,
A mente pede por mais consistência
E se até a consciência pede ajuda,
Quem é que escuta o chamado final?

Se isola no silêncio, num quarto imenso de vazio
E se sozinho sente frio, esquenta o peito,
Dá-se um jeito de sobreviver.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Vizinhos.

A mão desliza sobre a blusa
Usa-me, ela diz, lê-se na sua boca
Peças caem sobre o chão
Corpos caem no colchão
O controle aumenta o som
pra disfarçar a movimentação
Os vizinhos não merecem
Mas invejam de saber
Cada rangido da cama
Cada grito de prazer
Lá em cima, dissociam
Se saciam entre medos
Língua, pele, toque, dedo 
Tocam-se em perfeita harmonia
A sinfonia em dueto
Toma o cômodo como um todo
E os dois se unem em contração
Ambos corpos em ação

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Transtorno.

O tique do relógio dita o passo do caminho
A linha na calçada guia o TOC direitinho
A tranca destrancada vai e volta por certeza
Limpando novamente sem deixar marcas na mesa
Os quadros alinhados mostram a bela paisagem
Levando seus próprios lençóis em cada viagem
E se o ritmo da vida é planejado em preocupação
Incerto apenas é o ritmo da batida do coração.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Dissociação.

Dissocio do meu corpo após mais um copo
Os óculos sujos disfarçam o vermelho dos olhos
A dor espiritual e física espera tal hora, cínica, 
pra se manifestar
O passo pesado dita o ritmo do translado
Do trabalho para o lar
Onde um banho quente espanta de repente
Os males a me incomodar.
Na cabeceira da cama minha cabeça descansa
Como quem amansa uma fera faminta
E se não era, sinta como se fosse
O fundo do fosso nos trouxe
Um outro jeito de murchar.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Atrás do morro distante.

Atrás do morro distante
Mora um velho viajante
Que caminha pelos campos
Com olhar baixo e passo manco

Em sua bolsa leva tudo
Sua espada e seu escudo
Em busca de uma loucura
Que justifique uma aventura

Um ouro escondido
Uma princesa em perigo
Que vire sua amante
Atrás do morro distante

E é atrás do mesmo morro
Que a noite ouve-se o choro
Do viajante, bem baixinho
Triste por estar sozinho

Nem relincha seu cavalo
Que insiste em acompanhá-lo
Se esquentando ao seu lado
Pelas viagens do passado

O viajante pobre coitado
Ainda espera a motivação
Está sempre preparado
Pra pegar a próxima missão

Mas enquanto ela não chama
Faz-se do mato sua cama
Esperando doravante
Atrás do morro distante

quarta-feira, 29 de março de 2017

Viagem no tempo.

Qual foi a música, sabor ou cheiro
Que me levou através do tempo
para o dia que conheci você?

E estando aqui agora, 
me diz ainda se demora
Pro nosso beijo acontecer.

A mão suada me entrega,
Seu nervosismo não nega.
Aconteceu o que era pra ser.

E se hoje eu vejo 
Com carinho aquele beijo
Sei que deixo muito mais do que uma boa impressão

Porque o tempo muda tudo
Trabalho, viagens, estudo
Mas não apaga o que marcou pra sempre o coração.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Leve atraso.

Você você indo embora me fez faltar o ar,
Grito mas você ignora o que eu quero falar
O tempo passa como um relógio de engrenagens ruins
Esquecendo que o tempo corre contra mim
E quando o tempo passa e você não vê
O ponteiro atrasa e passa sobre você
Pesando os anos nas costas de quem não espera
A hora de largar as armas e sair da guerra.
Escuto o eco dentro de mim de não ser alguém,
A cobrança de chegar em um lugar e de ir além
O que o futuro me reserva não quero saber

Deixo que o tempo, na hora certa, mostre o que vai ser.