segunda-feira, 11 de maio de 2015

Abriu os olhos.




Ele abriu seus olhos e foi o maior baque que já teve na vida. Tudo tava diferente da cadeira onde ele sentava. Não reconhecia as pessoas, os lugares. Seu pensamento não entendia. Tinha sido meio segundo de olho fechado, como as coisas poderiam ter mudado tanto?
Seus amigos não eram mais tão legais, sua família não era exemplo. Seu emprego não fazia mais sentido, suas vontades se perderam no tempo. O que ele ouvia não fazia sentido, mesmo sendo no velho português e passando em todas as correções de coesão e coerência. Onde ele esteve nesse meio segundo?
As cores também tinham mudado, mesmo sabendo que estavam todas iguais. Seu cérebro não assimilava mais o azul e o vermelho. Até a organização das coisas em sua mesa parecia ter sido planejada para o incomodar. Sem saber o que mudou, ele andou por horas sem se comunicar com ninguém. 
Seu celular, agora só um objeto de metal que vibrava e apitava sem parar, foi arremessado distante contra o riacho de uma ponte que passou. 
A caminhada fazia sentido ainda, a direção não mais. Respirar, olhar para os lados antes de atravessar as ruas. Ele entendia o conceito de carro, só não era exatamente aquilo que ele estava enxergando.
Andou por horas até não conseguir mais e sentou em um morro no fim da cidade para observar o cenário. Os prédios, o trânsito, a vida das minúsculas pessoas. De longe, nada daquilo fazia mais sentido.
Ele abriu os olhos de novo, e agora tudo estava normal. Ele estava novamente na cadeira onde sentava. Um segundo tinha se passado desde que ele tinha fechado os olhos. Ele ajeitou sua coluna como o médico tinha orientado.

Em um lugar muito distante, um ser pensou satisfeito: "O recado foi dado".

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