domingo, 14 de dezembro de 2008

Restam Dois Pratos e Zero Comidas.

horas se passaram para que eu tomasse coragem de fazer o que deveria ser feito. horas que talvez podem ter durado dias. mas estava decidido, eu ia jantar. um longo ritual de preparação do alimento foi feito. após pronto ainda o observei como um artista a encarar sua obra. peguei um recipiente, um dos últimos diga-se de passagem, e lentamente organizei nele o fruto do meu labor. peguei o sangue de cristo em sua versão tropical, feito das melhores frutas cítricas que podem ser encontradas por todo o reino, e caminhei para meu recinto. meu trono. a região onde só o verdadeiro herdeiro pode entrar. infelizmente, o destino não era tão paciente. colocou em meu caminho uma muralha intransponível que, pegando-me de surpresa, jogou meu manjar aos ares. enquanto via meu joio e meu trigo dando suas voltas no ar, pensava em quão injusto a vida pode ser. quebra-se em mil pedaços cortando-me os pés e espalhando meu alimento pelo chão. nada mais poderia ser feito para consertar tal infortúnio. enquanto encarava meus criados dando seus sangues para não deixar vestígios, a marca maior ficava mais funda em meu peito. o sentimento de impotência queimava-me como nuvens oriundos do próprio sol. não havia mais sangue ou corpo de cristo, nem cálice sagrado. todos foram destruídos diante dos meus olhos. enjaulei-me em meu quarto para tentar me recompor. dias, talvez meses se passaram, até que tomasse coragem, voltasse a cozinha, pegasse o último prato que sobrou aqui em casa, a raspa do arroz e um ovo e fosse comer.